segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Tempos Atemporais

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Eu sou de um tempo onde o tempo não contava
e fui em Ur a estrela da madrugada; noites geladas
e, fui tremor e fogo da morte na Babilônia
e na Antioquia fui medicinas hoje extirpadas.

Eu sou de um tempo onde o sol ainda não brilhava
e fui hebreu que padeceu nos cativeiros
fui ermitão assírio e o escrivão dos pergaminhos
e dos primórdios dessa eloquência fui o primeiro.

Eu sou de um tempo onde o tempo em si resiste
anterior a tudo aquilo que hoje existe
fui o pretérito das conjugações perdidas
fui gérmen velho degustando novas vidas.

Eu sou de um tempo onde a voz gritava ao vento
todas balbúrdias e execrações da anti-matéria
fui o livreiro e mago algoz lá da Caldéia
que em tardes mortas iluminava o céu de estrelas.

Já fui fulano, fui cicrano e até beltrano
e das encostas fui as ondas violentas
pelas idades já fui trinta e fui sessenta
mas no tempo atemporal escondi a face.


Eu sou de um tempo que ao relento ainda não foi
fui borboleta, águias, harpias e o trovador
agora eu sou a eternidade tão vazia e distorcida
e, sou a pena do poeta; sou os estigmas da  vida.

Eu sou de um tempo onde o próprio tempo esquece
sou feito o éter que transcende e não arrefece
sou dessa luz que cega o vulgo e mata a fera
sou o princípio e o final da nossa terra.


Jonas Rogerio Sanches
Imagem: Salvador Dali - The Ship

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