Num rastro de tinta vazado
do espelho de um olhar tolhido
e escondido em meio ao passado
que se foi mas deixou uma flor;
plantada no quadro da parede
entre os jardins dos temporais
que desabam e espalham cinzas
dos mortos que foram aportar;
no cais do outro lado da vida
onde não sei se há tantas feridas
espalhadas em aquarelas abissais
de um artista que não volta mais.
Num rastro de polens e borboletas
nas crisálidas dormentes do amor
que se foi em um tempo de premissas
e bebeu os futuros de probabilidades;
e matou sua sede dos doces beijos
e bebeu do mel amargo da saudade
que foi deixada jogada à calçada
onde sentávamos para olhar os pássaros
que esvoaçantes trinavam ternuras
e rodeavam os frondosos jequitibás
e depois adormeciam nos ninhos das telas
que um pintor deixou de terminar.
Num rastro de um amor incomparável
eu me deixo vagar sem rumo nem prumo
pois já não tenho pressa nem medo,
só tenho esse sentimento inquebrantável.
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: Solange Alves da Silva
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