quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Jacaurélio e os Filhos do Nilo

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Enquanto o dia bocejava, lá vinha ele... Jacaurélio, no olhar brilho de esmero, ele vinha com sua bengala, cortando pensante o chão da estrada, de olho na embaúba, de olho na criançada esperando alvoroçada pela história de hoje.
- Lá vem ele! Está chegando – grita o pequeno Jacarlinho, filho do velho Jacarlão III, que era bisneto de Jacaurélio e tinha quatorze irmãos.
Jacaurélio se achegou embaixo da embaúba, com sua mão acenou para saudar a criançada que com brilho no olhar, veio em coro perguntar:
- Qual história será contada? - Jacaurélio com sorriso diz:
- Hoje falarei do Nilo, onde formei a minha prole, falarei de quando formei família, falarei dos pais dos seus avôs, que ao todo foram doze e que formaram seis casais, e digo além do mais, formaram a família que somos hoje.
- O filho mais velho é Jacoleão, grande orgulho, meu varão, trouxe glórias à família e casou-se com minha segunda filha, para estender a nossa prole... Minha amada filha Jacarta!
Jacaurélio foi mais a fundo, lembrando de todo mundo, foi em mergulho profundo em direção a sua casta. Jacaurélio antigamente comandou toda essa gente lá pelas bandas do Nilo, mas fez isso com certeza e se tornou a realeza, o Grande Rei dos Crocodilos, com a ajuda de seus filhos.
Voltando do devaneio, Jacaurélio continua com a história que encanta, pois sua genealogia espanta, com tanta gente ainda viva.
- Vamos indo criançada, vou de volta com a toada e, a história vou continuando, falarei dos outros filhos, que também tiveram brilho na história da família, os próximos são Jacobias e Jacleópratra, o terceiro e quarto filhos, que formaram um casal, e reinaram contra o mal pelas areias do Egito.
Jacauréio extasiado com o que era recordado continuou a narrativa:
- Depois me veio outro casal, de muitas glórias, muitas conquistas, eram eles, Jacalexandre, também conhecido como “O Calda Grande” e Jacaroxana, eles também tiveram filhos, foram oito se não me engano, mas a histórias desses filhos, deixarei a outro plano.
Jacaurélio não se cansava e a narrativa continuava, lembrando os tempos de plenitude; pois, hoje só lhe restavam essas lembranças, compartilhadas com as crianças nesse seu ato amiúde.
- Logo após já me vieram os filhos sétimo e oitavo, esses dois tem muitas histórias, construções, feitos e glórias pelas bandas lá do Nilo, governaram essas terras, com mão de paz, sem haver guerras, foram célebres aos olhos do povo; o varão Jacancamon e àquela que foi sua esposa, Jacansenamon, tiveram filhos que reinaram em seu lugar e sua prole prosperou por muitos anos.
- Agora me falta falar somente dos meus últimos quatro filhos, que me seguiram pelos trilhos por onde a vida me levou, eles ainda estão aqui conosco, para a minha grande alegria. – ouve-se um buchicho entre as crianças, e Jacarlinho todo orgulhoso, diz:
- Um deles é o avô do meu pai! – e Jacaurélio então sorrindo concorda com a cabeça, e antes que ele se esqueça, continua com a história:
- Vou lhes dizer sobre os últimos quatro, depois disso vou me despedindo, pois o dia também está partindo e amanhã eu continuarei; mas agora como prometido, vou falar quem são os quatro filhos, que sempre amarei demais; o nono filho é o Jacarlão I que se casou com a filha Jacinta, o próximo que veio foi Jacarandú, o esposo da caçula Jacaúva, que é doce como uma pequena uva, daquelas que eu colhia em minha antiga vinha.
Jacaurélio sem fazer rodeios, empunhou sua velha bengala, vestiu a cartola amarelada e com semblante emocionado, saiu com as pálpebras marejadas, na caminhada de volta para casa, ainda remoendo em saudade, do tempo, da idade, daquelas bandas das suas recordações da mocidade.



Jonas R. Sanches
Imagem: Google

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