Era uma manhã perfumada de
primavera, e lá vinha Jacaurélio pela estrada, ao longe já avistava a roda da
criançada embaixo da embaúba.
Jacaurélio se aproximou e para as
crianças acenou, sentou-se já pronto para a história e a narrativa iniciou.
A história que vou contar é das
bandas da minha juventude, lá pelos tempos de Noé que também esbanjava fé e
saúde.
Lá pelos lados da floresta, foi
bem em um dia de festa, que chegou um murmúrio preocuposo; diziam que o Pai do
Céu, cansado de tanto mal resolveu começar tudo de novo.
Os dias foram passando e
Jacaurélio foi se informando, já sabia da história toda, bem longe de ser
boato, pois escutou do bico do Sr. Feldispato que haveria até uma eleição, dizia
que somente um casal de cada espécie de animal teria seu lugar para a família
proliferar, seriam levados num barco, como o ventre que carrega o parto até o
tempo do dilúvio secar, aos outros que restariam na floresta, terminaria
fazendo festa até se afogarem nesse grande mar.
Jacaurélio ficou preocupado em
ter sua amada do lado e para o barco serem escolhidos, mas foi feita uma
assembleia regida pelo rei do rugido, Leonido Juba de Espicho, que resolveu
fazer uma disputa, onde a sabedoria era a arma de luta, e somente o casal mais inteligente,
que poderia cuidar de sua gente, seria o casal escolhido da floresta.
Jacaurélio junto de sua amada,
conhecida como Jacarandira, de natureza charmosa e esguia com destreza foram os
escolhidos, Noé então teve a certeza, que pelo menos a raça dos jacarés não
estaria perdida.
Chegou o dia da partida, a arca
ali jaz construída, entraram então em fila indiana, o pavão, o colibri e a
caninana, Jacaurélio vinha sorridente, com sua boca pluridentada, as mãos dadas
com a namorada, terno aos ombros e cabeça em chapéu, observava a estrutura do
barco, que até disse ao Sr. Feldispato, uma obra de mão menestrel.
Desabou então o céu prometido,
navegaram dias protegidos pelo barco tal qual grão-vizir, entre plúmbeas nuvens
por quarenta dias, quarenta noites e muitas maresias, foi então que o sol anunciou o
dia e um arco-íris então se formou.
Jacaurélio olhava maravilhado,
Jacarandira, Feldispato e esposa ao seu lado, desembarcaram então nas bordas do
Nilo, a vazia imensidão era um mundo tranquilo, foi então que Jacaurélio ficou
conhecido, por todas as bandas como O Rei do Nilo, mas a realidade ia bem além
daquilo, Jacaurélio tornou-se o Rei dos Crocodilos.
A roda de crianças olhava extasiada,
imaginavam se a história era realmente verdade; Jacaurélio então empunhou a
bengala, vestiu sua cartola e pôs os pés na estrada; no outro dia estará ali
novamente, com sorriso nos dentes na sombra da embaúba, contando suas histórias
que encantam; histórias que se não fosse à boa memória de Jacaurélio se
perderiam nos confins do esquecimento.
Lá se vai Jacaurélio pela
estrada, vai com seus passos lentos contemplando a alvorada, vai lembrando
àqueles tempos de sua juventude, amiúde vai seguindo com sua cartola amarelada.
Jonas
R. Sanches
Imagem: Google
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