Já naveguei por entre as nuvens,
eu já fui a ostra a perolar,
já fui estados de vertigens,
já fui o sol atrás do mar.
Já fui dragão e cavaleiro,
eu já fui pássaro a revoar,
já fui o vento beijando a vela
da caravela a navegar.
Já fui os extratos da loucura,
eu já fui vestes de candura,
já fui a carta extraviada,
eu já fui o tudo e fui o nada.
Já fui o anel de casamento,
eu fui fogueira de São João,
já fui um refrescante vento
que resvalou em sua mão.
Já fui a vida renascente,
eu fui a morte que atordoa,
eu já fui pedra, bicho e gente,
eu fui a carranca da proa
que corta em mares revoltosos
as linhas de uma poesia,
eu já fui olhos tão chorosos,
eu fui o extremo de alegria.
Eu fui papel e fui caneta
a transcrever a vida em versos,
já fui estrela e até planeta
a viajar pelo universo.
Já fui a rosa e seu espinho,
eu fui um raro passarinho
que cancionava em sua janela,
eu fui um rastro de aquarela.
Mas hoje eu tento ser poeta
ou até quem sabe um erudito,
mas minha alma é de asceta
observando o que é bonito.
Mas hoje eu tento aquele verso,
verso de outrora, esquecido
entre rascunhos malogrados
dentro de um coração partido.
Jonas
R. Sanches
Imagem: Sidney Hobart
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