Lá fora papai Noel e, aqui dentro
do estômago um vazio e vontades
e as ruas estão repletas de sorrisos
que passam sem notar minhas penitências.
Nas vitrines papai Noel e meus olhos
veem as imundícies sem preocupações
transitando entre a demência ilusória
e, no meu mundo é só mais uma fome.
Sou aquela criança natalina e praguejada
que estende a mão tão áspera pela esmola
e, você sorri da minh’alma que te implora
por um naco dessa alegria tão contorcida.
Sou aquele andarilho e minha ceia não tem pão
e, minha cama é só ladrilho, não há colchão
e, minhas retinas refletem minha solidão
encravada em dias e noites de inexistência;
mas eu não vou chorar as minhas carências
porque além de todas as privações eu sei
que existem sonhos e existem anjos bons
e, quem sabe um prato desfeito naquele entulho;
ou um embrulho nas minhas entranhas
que reclama os dias sem alimentos, mas
eu não lamento e sigo minha rotina insana
pelas vielas vazias onde um dia fiz minha cama.
Sou essas luzes do seu natal, e o lume
não me deixa escondido, mas me ignoram
pois não convém, por mim você fazer o bem;
pois foge as regras dessa ceia farta de ignorâncias.
E no tilintar dos sinos eu regozijo-me
e espero ansioso por mais um amanhecer
e espero esperançoso pelo meu padecer
e desejo a todos felicidades e um bom natal.
E quem sabe eu almoce seus restos num latão de lixo...
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: Retirantes de Portinari
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