Vim dos funerais das formigas bizarras
pelos túneis de choros de todas cigarras
cavados por minhocas magras ressecadas
num chão meio rangido e meio batido.
E meu caminhar foi de sobreaviso
carregando minúsculas urnas mortuárias
e pisei baratas sujas pelo caminho
e eu não chorei lágrimas de açúcar mascavo.
Fiz um funeral no chão do meu quintal
e a extrema unção foi das vis mariposas
que queimavam asas pelos fogos-fátuos
que sobrevoava toda essa balbúrdia.
E depois da ceia dos vermes famintos
nem ossos restaram muito menos roupas
somente uma arcada dentária com cáries
e alguns besouros de olhos de ouro.
Morreram também abelhas africanas
que se adocicavam no melaço das canas
que fez desse solo um deserto escasso
para alimentar mil cavalos de aço.
Cantos mortificantes e uma poesia
que celebra a morte até raiar o dia
e no amanhecer onde a vida renova
as pétalas dos túmulos daquela murcha rosa.
Tordos e corvos e abutres agora saciaram
em carcaças turvas a sede de todas as fomes
na beira das estradas com defuntos podres
só não degustaram o amaldiçoado homem.
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: Salvador Dali - The Face of War
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