Vivo espreitando as frestas desse paradoxo,
dos eus e vocês contidos e compactados;
vivendo dentro dessa caixa de pandora,
prestes a ser aberta para o esclarecimento.
Vivo entre as lacunas do tempo e espaço,
caçando estrelas e vaga-lumes encantados;
desabotoando flores em jardins babilônicos,
suspensos em varais e cabides de um mundo órfão.
Vivo e morro, perscrutando as portas infinitas,
que me levam de dimensão em dimensão;
caminhado por entre os degraus da consciência,
ressuscitando junto aos amanheceres outonais.
Vivo e morro sem pedir socorro, nu e extasiado,
despido dos sete velhos corpos mundanos;
colhendo pirilampos em pradarias galácticas,
e plantando sonhos em um campo de gerânios.
Vivo quase vívido, alucinando as mortalhas febris,
entre as arestas de um organismo quase morto;
pluralizando as células de um porvir existencial,
desmembrado de qualquer entidade desconhecida.
Vivo o tempo das flores, murcho ao sol da vida,
padeço em sede de voos alienígenas, como pluma;
pairo entre os solstícios e equinócios, em plenilúnios,
e abraço os anéis de um sistema planetário em colapso.
Vivo e morro em incontáveis funerais vazios de eu mesmo,
caminho entre as lápides na campa dos asteroides
embriagados;
e acendo todas as velas, oro todas as preces antes de
partir,
e num entorno místico continuo a minha própria continuação.
Vivo, morro, desintegro e integro o grande Todo,
nessa antiga peleja inacabável, derretendo em luzes
todas as partículas que restaram, germinando o amanhã;
e colhendo todos os destinos que escolhi no meu sono
restaurador.
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: Google
Parabéns pelo belíssimo blog e pelas lindas
ResponderExcluirpoesias, abraços.
Ivanildo Assis.