quarta-feira, 13 de junho de 2012

Flores Embalsamadas em um Deserto de Pintassilgos

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Deixei as flores em lágrimas
O lírio em vestes atenuantes
Entre tantos bem me queres
Afogou-se nas maresias

Deixei as flores em lágrimas
E um beijo do beija-flor
Que saciou os lúgubres instintos
E morreu em terra estrangeira

Deixei o meu peito em flores
Coberto em tumulo secreto
E antes da poesia raiar
As lágrimas aguaram os jardins

Deixei o tempo e as flores em sarjetas
Pisoteadas por transeuntes insensíveis
E foram todas as pétalas mortas
Que embriagaram os sentidos do rei

Deixei o amor seguir seu curso
Como um rio em cálidas rosas
Sequei os afluentes dos teus olhos
Para enterrar todos os peixes e águas-vivas

E em outros jardins plantei sóis
Plantei cactos e voltei para Aruanda
Juntei as tralhas de um viajante
E fugi do mundo em carruagem incandescente

Deixei todas as flores em lágrimas
Embalsamadas em frascos de Netuno
O pintassilgo trinou e exilou-se
Restaram apenas duas penas amareladas

Morri entre os cadafalsos e os pirilampos
Iluminaram minha lápide de lápis-lazúli
Refletindo os sonhos de um porvir em pérolas
Entre todas as turmalinas e alguns caracóis

Deixei uma ou outra frase escondida em símbolos
Para os criptógrafos morrerem junto aos desertos
Procurando as flores que não brotaram
Procurando os frascos de lágrimas de um plebeu

Deixei as flores renascerem e colorirem meu semblante
Para poder voar entre as águias dos meus pensamentos
Aturdido em devaneios e gritando entre ecos o amor
Vou seguindo perambulando entre os planetas extrassolares

Da minha janela entreaberta mirei mais uma vez aquele lírio antes de partir...


Jonas Rogerio Sanches
Imagem: Google

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