Chegara mais uma vez o Natal e
Erpídio, só no mundo, olhava as pessoas em seu vai e vem por entre as vitrines,
pelas vidraças dos restaurantes degustava com os olhos os suculentos pratos que
nunca teve a oportunidade de provar, o frio era intenso nas ruas iluminadas de
Paris e seus pés descalços estavam arroxeados pela ação cruel do clima hostil.
Imaginava e se perguntava onde
estariam seus pais que nunca veio a conhecer, fora ele criado entre andarilhos
que e o cuidaram desde que fora encontrado em uma moita enrolado em alguns
trapos na beira de uma estrada secundária nos arredores da cidade.
Agora seu futuro sem perspectivas
era na sua cabeça um turbilhão de sonhos fragmentados, onde ainda alimentava
esperanças de um dia deixar de ser um mero ser invisível que trafegava de praça
em praça buscando um recanto seguro para passar suas noites.
Em uma dessas noites estava
Erpídio sentado em um banco num lugar bem solitário, onde visitava sempre,
pois, sentia-se afagado pelos olores diversos de um vasto jardim em flores que
o cercava, foi quando viu se aproximar um senhor bem vestido, com estatura
elevada, sua barba bem aparada e já grisalha realçava o brilho negro do seu
imponente olhar, reparou que o senhor carregava em suas mãos um belo par de
sandálias amarelas e que nos seus lábios ostentava um sorriso um tanto quanto
benevolente.
O senhor aproximou-se de Erpídio
e disse-lhe com uma voz que continha um alto teor de bondade:
- Que faz um rapaz sozinho e com
esse triste olhar uma hora dessas nesse lugar tão vazio?
Erpídio com uma voz cansada e um
pouco trêmula respondeu:
-Sempre fui sozinho no mundo meu
senhor e muitas de minhas noites passo aqui nesse lugar que gosto e tenho como
especial, aqui não me sinto tão só, pois, tenho a companhia deste magnífico
jardim colorido e perfumado.
Sentando-se ao lado do menino e
lhe estendendo as sandálias que carregava nas mãos lhe perguntou em um tom
afetuoso:
-Menino, você gostaria de poder
realizar os seus maiores desejos?
De pronto veio a resposta:
-Senhor, tenho tantos sonhos em
minha vida e gostaria muito de poder realizá-los, mas, a vida foi injusta
comigo e minhas esperanças de um dia poder satisfazer minhas vontades estão se
esgotando – e com lágrimas nos olhos completou- Veja senhor, nem um calçado
para aquecer meus pés eu possuo, como poderei realizá-los?
Olhando nos olhos marejados do
pobre Erpídio lhe perguntou:
-Gostaria de ganhar esse belo par
de sandálias amarelas?
E Erpídio respondeu:
-Seria o primeiro presente que eu
ganharia em minha sofrida vida, ficaria eternamente grato pelo presente.
-Então elas são suas– disse o homem
- entregando o belo par de sandálias ao agora sorridente menino.
Erpídio que já estava com seus
pés já em uma condição precária e quase congelados, enrolou-os com umas tiras
de um pano aveludado que tirou de um de seus bolsos e calçou as sandálias, em
seu peito sentiu uma sensação desconhecida até então, um misto de esperança com
uma alegria nunca sentida antes.
Olhando com um sorriso grandioso
nos lábios se dirigiu ao senhor:
-Muito obrigado meu senhor por me
proporcionar pela primeira vez sentir-me alguém, pois, até esse momento vivia
perambulando pelas ruas da cidade como se fosse invisível – e segurando
firmemente a mão do homem lhe perguntou- Eu poderia saber quem é o senhor?
O homem com um sorriso misterioso
lhe respondeu:
-Eu sou aquele a quem você pede
em suas orações por uma vida melhor, eu sou seu pai... Eu sou aquele que os
homens chamam de Deus!
E como um lampejo de luz
desapareceu da frente do menino, que maravilhado pelo que viu, decidiu pregar a
palavra do senhor por toda sua vida, e assim foi feito... E Erpídio com suas
sandálias amarelas viajou o mundo exaltando e espalhando a palavra do Senhor...
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: Google
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