quarta-feira, 5 de junho de 2013

Vagante

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Dou tempo ao tempo
e fico sem tempo de sobreviver
na esquina do inverno
por onde consterno querendo viver.

Dou asas as rosas
singelas em prosas
em cores e gostos prescritos
na bula de um jardim convicto.

Dou flores as damas
mas já não visito as suas camas
nem a grama dos canteiros do Éden
onde foram batizados os animais.

Dou corda ao enforcado
e fico ao seu lado
como um coveiro alado
com olhos de corvos famintos;

e é até sucinto o que sinto
olhando nos olhos da morte
que é pálida, que é sorte;
e um pio no escuro é o presságio.

Dou cinzas ao vento
dos ossos do tempo
queimados e vividos ao relento,
e eu gosto, e eu me lembro e relembro

da noite em fogueira infernal
e o frio era o vinho carnal
degustado em paladar frustrado
das bocas que falavam madrugadas.

Dou bom dia ao ancião transeunte
e seu olhar retribui
então eu retorno ao mundo
e o que encontro é um ser moribundo

cansado frente ao seu eu no espelho
e nas lágrimas olhos vermelhos
por onde escorrem versos,
por onde escorrem sonhos.


Jonas Rogerio Sanches
Imagem: Google

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