Quando o arvoredo arqueou suas ramagens ensombrando as
gramíneas que circundavam seu imenso tronco, Hargos recostou-se as pedras que
brotavam no tapete verde da estação, ficou a fitar ao longe a silhueta de uma
caravana que cortava o poeirento estradão, era-lhe possível ouvir o relinchar
dos cavalos que puxavam as diligências, o burburinho das vozes misturavam-se
aos guinchos dos risos infantis; aquilo o remeteu às suas aventuras, suas
viagens pelo mundo a fora em sua busca interminável pela suprema paz e realização,
mas hoje, ali naquela sombra, finalmente compreendera que seu tesouro se
encontrava dentro do seu coração.
Ali ficou até que o sol despediu-se no horizonte, sua alma
sentia-se revigorada apesar de seu corpo decrepito estar cansado das sendas
trilhadas até aquele momento; sentia-se incrivelmente feliz, a noite avançava e
as estrelas agora eram sua companhia junto ao prateado disco lunar, notou que
pousou em um galho sobre sua cabeça uma coruja, que ficou a observá-lo com seus
dois olhos dourados e curiosos.
Da escuridão do horizonte noturno veio então a morte,
cavalgava em um cavalo negro de crina flamejante, parou bem em frente a Hargos
e estendeu-lhe a mão ossuda, o velho de alma jovem assentiu ao gesto e cavalgou
junto à morte pela infinidade da eternidade; gozava agora sua plena liberdade.
Jonas
R. Sanches
Imagem: Basilia Czar
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