terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eu e a Poesia de um Sol Noturno no Purgatório

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Alegoria da Igreja prostituída, por Doré,

Canto XXXII do Purgatório.



Sou eu e a noite
e os ventos assoviam
e as corujas me olham
e os lobos degustam luas.

Sou eu e a noite
e um papiro calado
calafrios e uma pena
entre as inspirações.

Sou eu e a noite
e o sangue correndo
em rios caudalosos
e o futuro na teimancia.

Sou eu e a noite
entre múmias de faraós
e arcanos inexoráveis
e verdades incognoscíveis.

Sou eu e a noite
e a virgem prostituída
entre os cães do inferno
e minhas mãos tremem.

Agora já não sou
e as estrelas caem
acendendo os campos
e degolando os videntes.

Agora é somente à noite
e a carruagem não para
puxada pelos leões alados
e pelo homem-águia.

Agora sou eu e o amanhecer
ressuscitando as palavras
escritas por um vetusto
e gravadas na rocha submersa.

Agora é somente o sol crepitando
e o aço jorra das entranhas
forjando o cálice e a espada
forjando a alma inebriada de insensatez.

Sou eu e o sol
e Ícaro sob o solo
e ampulhetas mortas
e a poesia que chega ao final.


Jonas Rogerio Sanches

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