Agora que o dia padece na noite
eu sinto medo, e sinto o tremor das cordas
de uma garganta áspera, cansada e poética
cochichando aos lobos órfãos e à lua pálida.
Agora que beijo a estrela, luz primeva crepuscular
onde se esconde o vulto temeroso de um curiango
que trina aos sonhos meus, e aos sonhos do mundo
que ainda não adormeceu nesse purgatório de emoções.
Agora que a noite é alta os clarinetes calam
e a orquestra passa pela praça dos assombros,
surdos-bumbos marcam passos na enxurrada
e os transeuntes cálidos correm nas suas rotinas.
Agora, somente agora quero pulsar meu ser
e como uma supernova expandir em explosões
parindo novas hipóteses e dilacerando prótons,
e elétrons, e nêutrons dentro de um ventre atômico.
Agora que o dia padece eu observo os ratos e os gatos
e me desfaço em uma brisa atemporal inexistente,
desoriento todas as birutas nos campos de marte
e alço voo guiado pelo magnetismo do seu amor.
Agora que o dia padece e o sol nu adormece
eu deito em minha alcova e conto os trincos pelas paredes
esperando um uivo ou um momento de vazio intenso
onde posso me encontrar a sós com meus anseios.
Enquanto uma coruja muito suspeita e curiosa
fica a me espiar pelas
frestas da veneziana ocre e enferrujada...
Jonas
Rogerio Sanches
Imagem: NASA
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