A chuva caía incessantemente
desde as três e vinte e sete da madrugada,
o sangue dos anjos escorria pelas sarjetas
lavando os pecados da seca miserável;
cães bebiam e uivavam à lua oculta
entre trovões que ribombavam surdos,
raios coriscavam rubros no firmamento
e iluminavam os olhos cegos da multidão.
A chuva caía incessantemente
debandando violenta até o amanhecer,
o sangue do céu lavava todos os telhados
e as flores murchas bebiam e embriagavam-se;
pássaros encharcados ensaiavam trinados
tímidos, aguardavam o ressoar do grito
de um urutau a examinar a pia alvorada
que ressurgiu sem cores, era plúmbea sua alma.
A chuva caía incessantemente,
seu gotejar invadia minha mente
e eu ouvia o recitar de sua poesia
que era molhada e escorria a reveria;
o sangue da caneta lavava meus pecados
e o poema então surgiu purificado,
enaltecido e misericordioso poema
que desorvalhou os olhos e ensolarou a alma.
Jonas
R. Sanches
Imagem: Google
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