sábado, 25 de janeiro de 2020

Desajustamentos




Meus desajustamentos gloriosos
contemplam ávidos o pôr do sol
e cantam cantigas velhas d’outrora
dos tempos que o vento assoviava
como os melindres da flauta de Pã
nas florestas encantadas do coração
que pulsa lento no peito da árvore
que de tão antiga deu sombra à luz
de um olhar pertinente d’algum transeunte
que por ela passou sem mesmo lhe notar
mas, haviam beija-flores e abelhas
festejando entre as flores e o sacis
que pululantes pitavam cachimbos roubados
de uma velha rabugenta na beira do rio
que corria com águas contrárias
e chovia para as nuvens de acolá
para elas levarem suas águas para o mar.

Jonas R. Sanches
Imagem: Hieronymus Bosch

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Eu e Meu Amor e Meus Cães Sentados ao Pé da Escada Admirando o Voo do Beija-Flor


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Minha poesia drástica
tecida em letra rústica
em tarde quente plúmbea
com cães e meu amor
com dores e sorrisos
um cafezinho fresquinho
sentados ao pé da escada
olhando um beija-flor
pairando em meio ao vento
procrastinando ao relento
cosendo-se ao nosso olhar
estupefatos e diáfanos
maravilhando-se com esse bailar.

Jonas R. Sanches
Imagem: Jen Lobo

terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Pétalas Enviesadas




Minhas pétalas enviesadas
são olhadas de soslaio
na rua das primaveras
no balcão do botequim

e o meu sangue é só por mim
meu suor de orvalho
vicejantes os colibris
embebendo-se no meu caule

e quando chove à estação
é porque já é verão
é porque me recolho à semente
pra semear o novo de mim...

Jonas R. Sanches
Imagem: Marcel Caram

Versos Entardecidos de Novembro




Nas cores do pôr do sol
melindres de nostalgia
derradeiro à luz do dia
nas margens do Rio Xingú;

nas cores cobrindo o céu
os pássaros pintalgados
nas copas dos arvoredos
trinados contam segredos;

nas águas a mansidão
entrecortada pela canoa
a noite deitando à proa
beijando o lindo luar;

nas estrelas um novo verso
cantado feito seresta
na viola canção transversa
de um poeta que é trovador...

Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dalí

Foz do Coração




Minha foz deságua
n’outras cachoeiras
águas derradeiras
chuva de paixão;

e o rio que passa
carrega a saudade
vinda d’outra idade
talvez do coração;

e a velha poesia
fez-se em melodia
ao raiar do dia
nas vozes do sertão...

Jonas R. Sanches
Imagem: Cícero Brito

Contemplando o Fim do Dia às Margens da Saudade




Deitei o tempo ao horizonte
entre minhas cores e de outrem
o meu olhar buscou além
das margens rasas dos meus olhos

e, foi saudade pitoresca
à contemplar a flor azul
que com o vento foi trazida
levada às bandas lá do sul

e, foi momento em nostalgia
à contemplar o fim do dia
enquanto o peito em rebento
marcava o som da melodia...

Jonas R. Sanches
Imagem: Vladimir Kush

Analgesias Transcendentais




Se a dor me irrita
eu tomo uma birita
mas, se vem à tona
eu tomo dipirona
mas, se estiver ameno
eu tomo ibuprofeno
mas, se ela em mim reside
eu tomo profenid
e daí eu fico mal
e encho a cara de tramal
e isso até me anima
então eu tomo codeína
e olho o pôr do sol
com uma caixa de paracetamol
mas, ela não sai de mim
então apelo ao vicodin
e quando ela se torna minha sina
vai uma ampola de morfina
e mesmo assim me falta sorte
então bebo um cálice de morte.

Jonas R. Sanches
Imagem: Jecek Yerka

Nosso Alvorecer de Domingo




Alvoreceu e você
aqui deitada ao meu lado
os nossos corpos entrelaçados
o nosso amor sem igual
e apesar dessas dores
nos entregamos ao riso
pois ele sempre é preciso
para continuarmos
trilhando esse caminho
que tem até curva reta
que tem até reta torta
mas com você não importa
só quero continuar
esse caminho trilhar
essa sua boca beijar
e sentir sua alma em mim.

Jonas R. Sanches
Imagem: Vladimir Kush

Natal




Hoje é o dia do nascimento
da vida e da morte
da verdade e da mentira
da religião que dá e que tira
e se esquece do próprio fundamento
que é a ausência do lamento
que é a escassez da fome
que é conjurar o próprio nome
em Budha, em Krishina, em Cristo;
mas pelo que tenho visto
ainda existem dogmas
que impedem as almas
de se reencontrarem com o próprio ser...

Jonas R. Sanches

Sobre Relâmpagos, Ampulhetas e Curupiras




Grãos de vida escorrendo ampulhetas
desgastadas nos sóis d’outras galáxias
e um colibri de asas siderais voa domingos
pelas plúmbeas nuvens e trovoadas
no seio vermelho de um relampejar
que corisca nas páginas de um velho livro
contando histórias e parlendas de matagais
onde vivia outrora um casal de curupiras
onde o vento se tornava vendaval
e o bem apaixonado pelo mal
brincava de ciranda com cabeças de reis
que governaram n’outros tempos, outros ais...

Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Meus Santíssimos Devaneios




Meus devaneios esdrúxulos
são orações aos Orixás
que guardam-me e curam
todas as mazelas de existir
e levam sob suas ondas
as impurezas para o mar
então eu saúdo a Grande Mãe
minha Sagrada Iemanjá
e das justiças da minha vida
eu clamo o amor de Pai Xangô
que com seu machado e sabedoria
quebra as demandas que alguém mandou;
sou eu aqui inda menino
engatinhando a minha fé
sou eu poeta em aprendizado
homenageando com carinho
os guardiões do meu caminho
Pai Oxóssi e Oxumaré
e quando à noite é lua cheia
vem Pai Ogum em seu Ginete
abençoar a minha lida
trazendo a vida sem permuta
tomando à frente em minha luta
e às vezes do céu vem tempestade
Mãe Iansã em tenra idade
clareia o céu relampejando
e eu aqui com minha pena
faço das letras meu emblema
durante o resto dos meus anos.

Jonas R. Sanches
Imagem: Superinteressante

Sobre as Benesses do Ano




Hoje é domingo derradeiro
e agradeço pelo ano inteiro
pois, o Senhor me abençoou
me trouxe paz e trouxe o amor

e desse amor veio a alegria
que há muito eu já não sentia,
agora de felicidade são meus dias
quando eu te vejo amanhecer

pois, tal qual sol você ilumina
minha labuta, a minha sina,
então eu sigo em poesia
então eu seguro em sua mão

e nossos caminhos que eram distantes
agora entrecruzados e enlaçados
nos versos serão eternizados
pois, o que eram dois agora é um...

Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dalí

Eu Sou Eu Fui Eu Sou




Eu sou poeta
mas já fui escravo
da borboleta que bebeu o sol
eu sou caipira
mas já fui lamento
dos pirilampos loucos do arrebol
sou meio chucro
mas já fui o cravo
que em sua ira despedaçou a rosa
eu sou poema
mas já fui a tinta
que algum escriba escreveu na roda
eu sou melindre
mas já fui mendigo
naquela rua cheia de ladrilhos
eu sou insano
mas já fui profeta
apedrejado em sua bicicleta
já fui eu mesmo
mas ainda sou
e minhas letras são de puro amor
então eu mesmo sempre eu serei
não sou plebeu e muito menos rei.

Jonas R. Sanches
Imagem: David Lynch

domingo, 15 de setembro de 2019

Esperando Meu Amor Chegar




Domingo cedinho
e o sol nem raiou
vou passar um café
para o meu amor

que inda é distante
mas, os dias seguem
e o trará depressa
para eu lhe beijar

para eu lhe cuidar
então juntos trilharemos
nossa senda iluminada
olhando estrelas à madrugada

e eu tomarei a lua
para lhe presentear
e eu a tomarei em meus braços
para lhe afagar

e nossos gostos se misturarão
no cálice de vinho tinto
sentados à varanda
junto aos nossos cães

junto aos nossos guias
então sorrindo brindaremos
nossos laços e desejos
e adormeceremos um no outro.

Jonas R. Sanches
Imagem: Pixabay

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Canto aos Orixás




As minhas flores eu lancei ao mar
as minhas preces foram a Iemanjá
o meu barquinho a Santa Mãe levou
e eu lhe saudei... Odoya Iemanjá...

Pela justiça eu chamei por Xangô
o seu machado o feitiço quebrou
minha oração o seu coração levou
e eu lhe saudei... Kaô Kabiessillê...

Pra nossa cura clamei por Omolú
com seu remédio ele nos medicou
o meu pedido pra ele, ele levou
e eu lhe saudei... Atotoô...

Por tempestade eu ventei com Iansã
ela me trouxe seus raios e trovões
a minha alma na chuva se banhou
e eu lhe saudei... Epahey Oyá...

Depois da chuva veio Oxumaré
com arco-íris o céu iluminou
toda ordem cósmica então se restaurou
e eu lhe saudei... Arroboboi Oxumaré...

Então pra mata eu fui buscar Oxóssi
por sua flecha minh’alma procurou
meus inimigos então ele derrubou
e eu lhe saudei... Okê Arô...

Foi pela noite então que eu caminhei
olhando a lua Ogum eu encontrei
com sua lança ele me protegeu
e eu lhe saudei... Ogún Ieé...

Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

De um Soneto que Passa com os Dias



Os dias vão passando tão devagar
e minha mente te procura à divagar
pelos horizontes distantes e infinitos
pelas parlendas antigas e seus mitos;

agora os dias vão passando depressa
e a minha mente à poesia regressa
voando alto, tal qual raro passarinho
e a inspiração outrora rara é como vinho

que embriaga a alma ruborizada
alma liberta adentrando a madrugada
buscando a luz interditada do cometa

buscando a flor extasiante d’outro planeta
mas, encontrando tão somente a saudade
da voz silenciosa que ecoa à eternidade.

Jonas R. Sanches
Imagem: Marcel Caram

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Minh’Alma e Tu’Alma



Minh’alma buscando a tua
iluminadas pelo clarão da lua
nossos olhares e a pele nua
ansiando pelo nosso amor
apertados no nosso abraço
fortalecendo nossos laços

e num beijo nossa união
tirando nossos pés do chão
e a poesia tal qual oração
canta o intenso da nossa paixão
canta a canção dos nossos sentimentos
e o teu olor trazido pelo vento

é de lavanda misto com jasmim
e nos meus sonhos você está em mim
e pra minha vida é meu grande desejo
de te sentir sem pudor e sem medos
sentados debaixo daquele arvoredo
onde confidenciamos nossos segredos.

Jonas R. Sanches
Imagem: Freepik

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Cantiga de Amor




Enquanto eu dormia você sonhava
enquanto você cantava eu amava
toda doçura contida na tua voz
e a canção era a que falava de nós,

enquanto você dormia eu sonhava
passava a fio te imaginando à madrugada
então eu cantava-lhe cantigas de ninar
e minha alma deslumbrava-se em te amar,

enquanto dormíamos anjos cantavam
uma cantiga bem antiga de amor
era a canção que falava das nossas vidas
e o refrão gritava à nossa paixão.

Jonas R. Sanches
Imagem: Remédios Varo Uranga

domingo, 18 de agosto de 2019

Nós Dois

Nós Dois




Já era noite e a distância era um açoite
pois, no abraço de desejo éramos nós
nos entregando um ao outro sem pudores
e as nossas dores já não existiam mais.

Já era noite e uma estrela em oração
riscou o céu só para nossos pedidos
nós dois feridos pela insana ansiedade
nós dois pedindo um ao outro à eternidade;

amanhecerá e o tempo sorrirá pra nós
e todo pranto transmutar-se-á em alegria
e, nossos dias serão nossos de verdade
enquanto num beijo adormeceremos a sós.

Jonas R. Sanches
Imagem: The Sacrament of the Last Supper - Salvador Dali