sábado, 30 de abril de 2016

Foto 3X4



Fui registrar a minha foto 3X4
lá na vendinha do Sr. Damião,
foi registrado o âmago do retrato
do abstrato do meu coração.

Foi essa foto registrada pela vida
e fez guarida na minha identidade,
com essa foto eu fiquei conhecido
lá pelos umbigos da minha cidade.

Foto 3X4 de infância à mocidade,
foi essa foto a mais bonita da cidade;
causou um causo com vintém de raparigas
mas meu amor é o amor da minha vida.

E esse amor está comigo sorridente
mesmo naquele dia que perdi o dente,
mesmo naquela febre quase amarela
que me provou o quanto eu gosto dela.


Jonas R. Sanches 

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Poetando com os Pássaros



Na friorenta manhã a poesia
fez-se tremulada no raiar do dia
o céu tão plúmbeo inspirava melodia
então com o melro fiz uma parceria;

entre trinados estridentes nasceu o verso
e a canção ecoou pelo universo
foi um dueto de homem e passarinho
que se aninharam num poema em desalinho;

então chegou voando um sabiá
veio trazendo novas notas à cantoria
e lá no alto bailavam as andorinhas
num espetáculo sutil e matinal;

juntou-se a roda um curió sensacional
trazendo um timbre novo ao musical
em suas asas imaginei mil partituras
nessa manhã friorenta de cores cruas.


Jonas R. Sanches
Imagem: Marcelo Martins Belarmino

terça-feira, 26 de abril de 2016

Frente Fria



Fui dar bom dia ao sol
mas o céu estava plúmbeo
novas cores no arrebol
novo acorde em si bemol.

Hoje os pássaros se aninharam
no sinal do vendaval
andorinhas se alinharam
lá pousadas no varal.

Eu senti o olor da chuva
no quintal a leve bruma
o frio deve estar chegando
e o café está coando.

Saúdo o dia em poesia
amanheço em alegria
dou adeus a madrugada
que partiu enluarada.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google 

domingo, 24 de abril de 2016

Poeta Voador



Empunhou a caneta e bateu asas
foi pintar no céu todas as estrelas
foi riscar na lua uma poesia
e depois pintou o sol para ser dia,
poeta alado que não vê limites
quando alça voo rumo ao infinito
viaja distante procurando mitos
numa odisseia que não tem final
buscando os segredos do arrebol,
voa observando mais uma alvorada
que vem delirante após a madrugada
voa junto aos pássaros, vai até o zênite
depois volta ao mundo e senta na varanda
pra compor sonetos, pra compor cirandas
então adormece e acorda do sonho.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Do Soturno ao Diuturno ao Noturno ao Infinito



A lua raiou como um sol noturno
floresceram rosas em Saturno
o poeta caminhou de elã soturno
e o espírito desfigurou-se diuturno
numa cratera d’algum outro planeta

que transfigurou-o em um asceta
que caminhou avoado por universos
buscando a perfeição nos versos
que narrem o todo em reverso
alumiando os olhares transversos

de duas estrelas quase se apagando
enquanto a existência vai caminhando
por vias extintas e intermináveis
por becos incertos e inenarráveis
por sendas nocivas e incognoscíveis

que guardam histórias terríveis
que guardam rumores incertos
que se desfazem na beira do inferno
que ilude os supostos insanos pecadores
remoendo nas almas suas dores

que são flechas do arco da consciência
em busca de perdão e clemência
em busca da luz que é renovadora
em busca de um sol irrelevante
que faz-te ver que viver é o bastante.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Sons



Sons ecoando,
sons do piado da coruja,
do cacarejar da galinha,
do cricrilar do grilo,
do zumbir da abelha,
do bramir do urso,
do mugir do boi,
do roncar do tigre,
do zurrar do burro,
do coaxar do sapo,
do berrar da cabra,
do grunhir do porco,
do ladrar do cão,
do arrulhar do pombo,
do relinchar do cavalo,
do grugulejar do peru,
do sibilar da cobra,
do grasnar do pato,
do balir do cordeiro,
do chilrear do pássaro,
do crocitar do corvo,
eco disso, eco daquilo,
ecos, ecos,
ecos na minha cabeça,
mesmo que eu não mereça,
ecos, ecos, ecos,
sons de animais,
sons ecoando,
do palrar do papagaio,
do cucar do cuco,
do piar do mocho,
do cantarolar do galo,
do guinchar do macaco,
do miar do gato,
do uivar do lobo,
do ulular da hiena,
do rugir do leão,
mas o mais constante,
o zumbir dos insetos
picando minhas pernas
enquanto escrevo
essa poesia bem estranha
enquanto escuto ecos
vindos da vitrola
que roda tocando
um vinil antigo guardado
do Led Zeppelin.

Jonas R. Sanches
Imagem: Robert Plant

Pelos Vãos do Tempo



Pelos vão vazios do tempo
observei o passado e o futuro,
o presente era em cima do muro
segurando uma ampulheta vazia
onde os minutos já não são mais;
o tempo parou num piscar de olhos
e o sol crepitou inocente no céu
emanando versos radioativos
pelo vácuo diáfano d’alguma estrela
que cadente virou cometa sem rota
e foi passear pelos confins do cósmico
procurando o ventre nascedouro
d’onde a luz e as trevas reverberaram
e de mãos dadas viajaram universos.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 19 de abril de 2016

Apocalipse de um Amanhã que já se Foi



Depois do arrebol e da estrela primeva
cessou o canto diurno da natureza
mas, inaugurou a noite o curiango
com trinados estridentes arrepiantes
como as guitarras esquecidas do passado

que são repetições na minha vitrola
de rifes marcantes e bemóis de poemas
que surgem com fantasmas de Hendrix
nas vielas dos desertos de Morrison

com peiote e cactos adjacentes
como as viagens psicodélicas de Jim
lendo as páginas de Aldous Huxley
e adentrando as portas da percepção

que Castañeda singrou as chaves
daquelas fechaduras de Ixtlan
onde o mestre Juan de Sonora
hermetificou todos os segredos

do infinito inacabado
mas, Pan foi cinzelada no Éden
no âmago de uma maçã chilena
e, depois Adão adormeceu

esperando frutificar os frutos
que naquele amanhã frutificariam
até os confins do mundo
sacrificando o pecado no sangue de Abel
que morreu para nascer a poesia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Quando o Galo Canta um Soneto



O galo cantou estridente
apontando o sol matinal
acordando toda essa gente
lá no fundo do meu quintal

veio junto a passarinhada
com alegria e seu gorjeado
era o fim dessa madrugada
pois o sol já era despontado;

nas manhãs esse é meu sertão
onde mora o meu coração,
onde é a guarida de minh’alma,

onde eu poeto com minha calma,
inspirado por um raro elã
que me invade toda manhã.


Jonas R. Sanches
Imagem: Frank Carneiro

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Poesia Para a Jade - Minha Cachorrinha Querida



O dia estava indo-se
meu novo cão abraçou-me,
assistimos o pôr do sol
entre grunhidos e latidos.

Na vertigem beijou-me o nariz,
lambeu-me os lábios
como fosse um chafariz
depois adormeceu nos meus braços.

Filhote de cachorro,
filhote de amor inocente,
que degusta alegria na gente,
que adormece no meu colchão

Não sei como não amar esse bicho
pois, o seu carinho é carinhoso;
te amo Jade, pois tu me amas
e te verei crescer nas minhas poesias.


Jonas R. Sanches
Imagem: Ely Monteiro

Poema a Catanduva



No princípio tu foste Cerradinho
devido ao mato cerrado do chão,
logo após tornou-se Vila Adolpho
em homenagem ao nome dum coronel,
mas, enfim com a estrada de ferro
virou município em 14 de abril,
nascia então Catanduva
a Cidade Feitiço do meu Brasil,
já hoje é esbelta e florida
meu leito, minha vida e guarida,
escola da minha criação,
tu hoje faz 98 anos
e eu com poesia no nascer do dia
venho com alegria te parabenizar
pois, hoje com quase 100 anos
contempla os meus planos
e guarda o meu lar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Ipês floridos na Av. José Nelson Machado

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Epítome



Biblioteca de diversidade,
compêndio de multiplicidade,
letra, sílaba, palavra,
ponto, vírgula, crase,
travessão, diálogo, exclamação,
verbo, verso, poema, poesia,
soneto, trova, cordel, menestrel,
caneta, caderno, ideia, papel,
rima, consonância, consoante,
agora, depois, antes,
antes da palavra,
antes da ideia,
antes do poema,
inspiração, elã, contemplação,
sol, mar, ar, chão,
poeta, músico, trovador,
sorriso, seriedade, dor,
biblioteca de sentimento,
compêndio de pensamento,
início,
meio,
fim.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

terça-feira, 12 de abril de 2016

Soneto da Senda Continuada



Eu vi o sol amanhecer em mansidão,
vi os pássaros alegres despertarem,
eu vi as flores se desorvalharem,
eu vi o dia engolir a noite em oração.

Eu vi no espelho o reflexo de mim,
vi os passos que trouxeram até aqui,
vi tantas coisas e até me perquiri,
vi as sementes rebrotarem no jardim.

Foram visões da vida inacabada
seguindo a senda que é continuada
e é pedregosa e de pés cansados

eu sigo em frente como eu fosse alado,
eu sigo caminhando sem temor
pois eu cultivo a vida com amor.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

domingo, 10 de abril de 2016

Labuta Melancólica



O sol mais uma vez se foi
deixando essa melancolia
no céu estrelas embaçadas
ofuscando toda a alegria

desse sertão rechaçado
de horizonte dourado
pintalgado de andorinhas
que se encolhem na brauninha

solitária lá no pasto
circundada pela seca
as gramíneas que animavam
escassearam pelas gretas

e o poeta angustiado
com marasmo e saudosismo
imagina-se um ser alado
revoando pelos cimos

das montanhas lá distantes
daqueles picos enevoados
onde a paz se faz constante
num recôndito isolado

mas a vida segue em frente
e a montanha lá distante
relembra da minha gente
nessa labuta constante.


Jonas R. Sanches
Imagem: Alberto da Veiga Guignard

Rachaduras na Alma de um Soneto Estreito



Nas rachaduras da terra seca
o gérmen dormente do sol
que adormeceu no arrebol
no leito do som da rabeca;

cantou com piado a coruja
no realumiar do sertão
prateado no brilho do chão
tendo a noite como lambuja.

Nas rachaduras da minha mão
as marcas profundas da enxada
deixadas pelas minhas labutas

nos anos passados com lutas
com vestígio duma madrugada
que plantei um pé de coração.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 9 de abril de 2016

Turbilhões de Vento no Vale dos Pensamentos



Turbilhões redemoinham em torvelinhos
levando velas e movendo moinhos
nessa odisseia que não tem fim e nem princípio
nessa seresta que vou cantar desde o início
onde as guitarras chovem estrelas no precipício
e os poetas carregam letras em um hospício
para animarem aquela estátua do frontispício
que é dormente no sol poente do horizonte
e no arrebol reflete o sol que é distante
enquanto a noite é um açoite desconcertante
no seu negrume um vaga-lume protuberante
voa sem rumo deixando um rastro alumiante
e eu aqui olhando e bebendo refrigerante
a esperar a morte chegar dum vale arrepiante.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Gavetas da Alma



Nas gavetas da alma
reminiscências d’outrora,
de vidas de outras vidas
manifestas em sonhos;

sonhos de revelações,
lembranças d’outros tempos,
tempos em evolução
levados às areias ao  vento.

Nas gavetas da alma
cânticos e poemas
escritos em pergaminhos
deixados pelo caminho;

sonhos de revelações,
pena, tinteiro e cadinho,
receitas de transmutações
alquimia em desalinho.

Nas gavetas da alma
cadernos de conhecimento
relidos por outras almas,
letras como alimento;

sonhos  de revelações,
ciência dos corações
adquiridas em manifestações
grafadas no profundo do espírito.


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali

terça-feira, 5 de abril de 2016

De um Sonho Inexplicável



Vi dois sóis brilharem
no sonho que sonhei;
era num tempo sem tempo
onde o vento eu resvalei...

Vi um temporal de estrelas
nesse sonho que sonhei;
era um céu de fogaréu
de um mundo que entalhei...

Ouvi uma voz de terremoto
nesse sonho tão remoto;
era o eco da voz de Deus
gritando que era rei...

Ouvi um silêncio ensurdecedor
nesse sonho de torpor;
era o eco do novo abismo
que escalei e auscultei...

Vi o mundo renascendo
nesse sonho interminável;
foi d’um ventre inenarrável
o parto que vislumbrei...

Vi a luz e a escuridão
neste sonho misterioso;
eram opostos em união
gerando toda a imensidão...

Vi e calei atordoado
esse sonho que sonhei
de sonho tornou-se poesia
que neste dia então narrei...


Jonas R. Sanches
Imagem: Salvador Dali