quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Nas Tuas Páginas



Nas tuas páginas
sentimentos transbordando,
leões sutis alados,
corações aprisionados...

Nas tuas páginas
sanguinários inocentes,
criminosos indecentes,
homens revolucionários...

Nas tuas páginas
cinderelas amiúdes,
faraós em ataúdes,
deuses virgens decepados...

Nas tuas páginas
assassínios condecorados,
reis insanos alterados,
santos recorrendo às lágrimas...

Nas tuas páginas
o real e a fantasia,
ficção e alegoria,
metáfora e paradoxo...

Nas tuas páginas
o fútil e o conhecimento,
regozijar e sofrimento,
inferno, céu e sentimento...

Nas tuas páginas
sangram céus e arrebóis,
choram luas e sorriem sóis,
cadentes estrelas e mil cometas...

Nas tuas páginas
dou um mergulho no escafandro
e no oceano vou navegando
em busca da nova inspiração.

Nas tuas páginas
o meu elã é a sangria
que se derrama noite e dia
e renasce como poesia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sanguessugas Catatônicas



Bigodes desalinhados e anzóis
pescando no rastro das estrelas
fugidias aos olhares alienados
e as televisões andam de cócoras
em uma avenida imaginária do além
onde sóis poentes e subsequentes
coagulam em suores tórridos
de testas em campos férteis de concentração
desconcentrando o homem da biblioteca
que aponta lápis e corrói os tímpanos
de um grito sônico de silêncio
ecoando pelos corredores vazios da catedral
de areia que se desfaz como a fé
quando chegam as dores do temporal.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Olga Bater

Blues Caótico Paradoxal



Meu blues caótico paradoxal
em cadência de escalas múltiplas
entre uivos de cães das ruas
e discos de Stevie Ray Vaughan
nas ladeiras intermináveis dos cometas
sobressalentes como os rifes de Buddy Guy
em pubs esotéricos com Muddy Waters
bebendo whisky Jack Daniels e cigarros
insaciáveis e mentolados e saxofones
adentrando como os timbres de Stan Getz
que da Filadélfia veio duetar com  Tom Jobim
em algum bar ou botequim da Rua Augusta
pena que eles esqueceram-se de mim.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Manhã Transcendental



Derramaram-se do céu gotas cristalinas
de uma chuva mansa e sutil
que entrelaçava-se aos raios solares
tão tímidos surgindo detrás das nuvens;

o poeta empoleirou-se junto aos pássaros
e cantaram seus versos àquela manhã
enquanto flores desabrochavam e ouviam
emocionadas em seu jardim de encantos.

Derramaram-se letras como aquela chuva
e na emoção do pranto tornou-se temporal
e na comoção do tempo o alento atemporal
daquela cena como um emblema transcendental;

daquela verve de algum poema universal
que sob encanto calou-se o pranto da natureza
e contemplou a alma translúcida que com destreza
se desprendeu de tudo e nesse mundo se dissolveu.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Lembranças das Sequelas Esquecidas nas Sarjetas Silenciosas de uma Rua Muda e sem Calçada



Sequelas distorcidas adormecidas
nos vãos das sarjetas silenciosas
daquelas ruas rachadas pelo tempo
e das calçadas sem pegadas novas
somente a dor de antigamente
grafada nos pesadelos da noite
que escorreram na enxurrada
que foi deixada pelo temporal
naqueles tempos antes d’eu nascer
mas, inda era tempo de boa poesia
dos velhos imortais poetas mortos
e, eu do ventre rememorava
tudo aquilo que eu pariria das letras
e deixaria escrito bem antes d’eu nascer
para algum leitor da posteridade
com óculos de fundo de garrafa ler
e se assustar com tudo aquilo
que inda não foi, mas, nem será;
foi alucinação, contração e ficção
do meu quase prematuro pensamento
que sobreviveu a mais uma poesia
e adormeceu naquela mesma sarjeta
cheia de sequelas sujas e silêncio.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Poema X



Borboletas catatônicas
em crisálidas inofensivas
sorvendo o pólen virgem
das papoulas alienígenas
em noites de mil mariposas
com cantigas infinitas
e, lamparinas e lampiões
das pradarias e dos sertões
dessa seca inóspita do além
onde alguém tornou-se ninguém
mas, deixou grafado no quartzito
histórias dos deuses tornados mitos
e d’algum disco voador
que sobrevoou línguas extintas
e, deixou marcas indecifráveis
nos vãos incorruptíveis do tempo.


Jonas R. Sanches
Imagem: The X Files

Catálogo de Discos Antigos de Vinil nas Trincheiras de um Beco da Zona Sul



Sons catalogados na mente
das estrelas cadentes
carregadoras de pedidos inválidos
nos refrãos de Syd Barrett
em um vinil antigo empoeirado
entre as lacunas de um poema sórdido
que desmembra cadáveres
na rua escura de um funeral
que sorri às flores (SIDERAIS)
e pranteia lúgubres lágrimas
em rios caudalosos de sangue
e fogos-fátuos procrastinados
em lâminas ebúrneas de um livro
de dois gumes... De cem páginas
amareladas pelo tempo que foi
distante de um passado lívido
mas, ficou ainda na vitrola a faixa
final daquele vinil que não ouvi.


Jonas R. Sanches
Imagem: Sara Roizen

domingo, 11 de outubro de 2015

Poesia de Domingo de Manhã



O sol ainda nem nasceu
mas, o poeta despertou versos
inda sonolentos e bocejantes
aguardando o primeiro trinar
de um pássaro de penas de fogo
de timbres flamejantes
como os de Nina Simone.

O sol bocejou no horizonte
e, agora nascem as primeiras cores
iluminando o rumo leste
mas, o poeta colheu orvalho
e deu de beber ao primeiro pássaro
que gorjeou estridentemente
como o canto de Janis Joplin.

Agora já são as primeiras luzes
redecorando as flores do jardim
que desorvalham violentamente
ao toque do olhar do basilisco
mas, o poeta é o maestro observador
e os pássaros agora são algazarra
como o maracatu de Chico Science.

A orquestra está passando pela rua central
e os moleques descalços festejam o domingo
ziguezagueando como pássaros metódicos
singrando o céu azul  pintalgado de nuvens
mas, o poeta se recolhe ao leito... De estrelas
guardadas em seu ataúde no canto do quarto.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Céu Carmim



Foi céu carmim no limiar da madrugada
e o sol no céu beijou a nuvem do horizonte
e despontou com o mesmo teor de ontem
com sua luz a crepitar tão fulgurante.

Foi céu carmim no amanhecer da passarada
e o bem-te-vi gritou em voz estridulante
o canarinho saiu do ninho e foi avante
junto ao sabiá numa sonata revigorante.

Foi céu carmim no recostar do meu jardim
e o beija-flor foi multicor no coração
beijou a rosa, beijou o cravo dessa estação
e revoou levando amor e uma canção.

Foi céu carmim no rebrotar da inspiração
e a poesia nasceu com o dia como oração
e o poeta foi o asceta, foi comoção
deitando às linhas as maravilhas da sensação.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 3 de outubro de 2015

O Poeta e a Cigarra Dividindo o Crepúsculo



O poeta recostou-se ao portão
era crepúsculo, mas não era
pois, realmente sua visão tapou-se

entrecruzada as casas do horizonte;
ele pensou em um céu fantástico
imbuído pelo canto das cigarras

que alternavam entre suas notas
o valor das cores ocultadas, enfim;
o poeta mergulhou nos sons

que enlevaram sua alma ao além,
além de tudo, foi além do que é além
e mergulhou nas cores incolores daquele canto

de um inseto que foi objeto do pranto

da emoção de contemplar a natureza...


Jonas R. Sanches
Imagem: Wikipédia

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Poesia Redespertada



A poesia que por dias adormeceu,
iridesceu, despertou extravagante,
osculou o sol na calmaria da manhã,
cantou com o pássaro de penas cintilantes.

O poeta que por dias refletiu,
voltou à luz, esclareceu a inspiração,
escorreu límpido na tinta da caneta
e retumbou as letras do seu coração.

Poeta vasto e poesia alegoria
e sua metáfora é transubstanciação,
o seu olhar é um vislumbre de alegria
que pinta em tela a aquarela da ilusão.

Poeta cauto e poesia adjacente
e o paradoxo é o profundo da mente,
o seu elã é a flor, é a cor, é o momento,
o seu amor é a açucena ao relento.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google