Eu vivia naquela vasta
prateleira, comigo viviam outros como eu ou em outros tons... Ali eu calado
sonhava, sonhava em um dia poder sair.
Eu me entristecia, pois meus
irmãos de cores vívidas eram os preferidos por aqueles que vinham ali para
comprar pincéis, telas e meus irmãos.
Eu calado sonhava...
Sonhava em poder adentrar aqueles
campos bucólicos em uma tela de aquarela, sonhava ser o sol beijando a face de
um pincel que delineia a forma surreal e abstrata de um louco menestrel.
Eu me entristecia por estar ali
na prateleira, sem ser notado, sem ser comprado, sem ser tão pigmentado, era eu
ali apenas um borrão descolorado.
Eu calado sonhava...
Sonhava ser cor no rosto
melancólico do palhaço que tão triste alegra a vida que passa sem graça, sem
ter pena de ninguém.
Eu me entristecia, mas enfim
chegou o dia que eu fui arrebatado, hoje eu vivo neste quadro, sou mil nuvens
de algodão, sou a pena da andorinha que revoa no sertão.
Eu calado ali no quadro e as
almas me olhavam... E as almas sonhavam...
Jonas
R. Sanches
Imagem: Claudia Simões
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