quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A Última Poesia do Ano



Na última poesia eu não falarei do dia
e, mesmo sob o açoite não falarei da noite,
e não falarei o verso que é controverso
e, não cantarei a rima que é matéria-prima.

Na última poesia eu não falarei do pássaro
e, mesmo sob a chuva eu não falarei da bruma,
e não falarei em trovas sobre as rosas
e, não cantarei a aldravia sobre a lascívia.

Na última poesia eu não falarei do sol
e, mesmo que seja a lua eu não falarei do arrebol,
e não falarei do soneto em branco e preto
e, não farei cantigas sobre as vidas.

Na última poesia eu falarei da própria poesia
que constrói de verso em verso a minh'alegria,
que na rima imagina o olor da tangerina,
que na estrofe transfigura o que é precoce.

Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Casa de Poeta



Em casa de poeta
tem letras por todos os cantos,
algumas subindo às paredes
outras recitando encantos;

tem sentimentos guardados em gavetas,
devaneios que espreitam em gretas,
poesias por sob os tapetes,
poemas que dormem na rede.

Em casa de poeta
tem letras de outros planetas,
algumas coladas no teto,
outras singradas no leito;

tem sentimentos na geladeira,
devaneios em cima das telhas,
poesias florindo no jardim,
poemas em meio aos jasmins.

Em casa de poeta
tem rabiscos nos lençóis,
tem rascunhos nas entranhas,
tem mil luas, tem mil sóis.


Jonas R. Sanches
Imagem: Adi Barbosa

Maison de poète

Dans la maison du poète
a des lettres partout,
certains escaladant les murs ...
autres charmes récitant;

a des sentiments stockés dans les tiroirs,
rêveries qui se cachent dans les fissures,
poésie sous les tapis,
poèmes de couchage sur le réseau.

Dans la maison du poète
a des lettres d'autres planètes,
certains coincé dans le plafond,
singradas autres dans le lit;

a des sentiments dans le réfrigérateur,
rêveries sur les carreaux,
la poésie qui fleurit dans le jardin,
poèmes parmi les jasmin.

Dans la maison du poète
avoir gribouillis sur les feuilles,
a des projets dans les entrailles,
a mille lunes, a mille soleils.

Jonas R. Sanches
Photo: Adi Barbosa
Tradução; Mourad Madi

domingo, 28 de dezembro de 2014

A Espera da Morte



Quando o arvoredo arqueou suas ramagens ensombrando as gramíneas que circundavam seu imenso tronco, Hargos recostou-se as pedras que brotavam no tapete verde da estação, ficou a fitar ao longe a silhueta de uma caravana que cortava o poeirento estradão, era-lhe possível ouvir o relinchar dos cavalos que puxavam as diligências, o burburinho das vozes misturavam-se aos guinchos dos risos infantis; aquilo o remeteu às suas aventuras, suas viagens pelo mundo a fora em sua busca interminável pela suprema paz e realização, mas hoje, ali naquela sombra, finalmente compreendera que seu tesouro se encontrava dentro do seu coração.
Ali ficou até que o sol despediu-se no horizonte, sua alma sentia-se revigorada apesar de seu corpo decrepito estar cansado das sendas trilhadas até aquele momento; sentia-se incrivelmente feliz, a noite avançava e as estrelas agora eram sua companhia junto ao prateado disco lunar, notou que pousou em um galho sobre sua cabeça uma coruja, que ficou a observá-lo com seus dois olhos dourados e curiosos.
Da escuridão do horizonte noturno veio então a morte, cavalgava em um cavalo negro de crina flamejante, parou bem em frente a Hargos e estendeu-lhe a mão ossuda, o velho de alma jovem assentiu ao gesto e cavalgou junto à morte pela infinidade da eternidade; gozava agora sua plena liberdade.


Jonas R. Sanches
Imagem: Basilia Czar

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Do Farfalhar Calado das Folhas



O farfalhar das folhas se calou
entre o gole que acalorou
a mente, consequentemente a gota
de chuva que caia molhava a roupa.

Roupa de pele que sela a amizade
em momentos de risos, insanidades;
no pranto aguçado, flor da iniquidade
que morre em gargalho na flor da idade.

O farfalhar das folhas se calou,
ficou a escutar o agudo do riso
que escracha no peito o arroxo do gozo
entre amigos em papos de amor carinhoso.

Roupa da mente, algoz pensamento
que corre e discorre olores ao vento
e o momento feliz é o prumo da chuva
quando algures amigos vestem como luva.

O farfalhar das folhas se calou
e o riso cessou pela despedida;
anseio no seio do amigo, da amiga
e a poesia o momento ao relento guardou.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Lá Vem o Natal



O natal já vem chegando
e a criança está chorando
pois sua barriga está vazia,
pois sua existência é agonia.

O natal já vem chegando
e o idoso está solitário
suas alegrias estão no armário,
os familiares lhe abandonaram.

O natal já vem chegando
e as lágrimas estão rolando
dos olhos d’alguém no Brasil
adormecendo no meio fio.

O natal já vem chegando
e já não tem papai Noel,
tem gente morrendo em hospital
pela sua condição social.

O natal já vem chegando
trazendo fome, dor e tristeza
àqueles que já não tem
o alimento para pôr à mesa.


Jonas R. Sanches
Imagem: fotoengraçada.com

sábado, 20 de dezembro de 2014

A Dança Depois da Última Chuva



Depois da última chuva
bailaram infinidade de aleluias,
foi bailado de asas em decomposição
e, foi a composição da canção lunar.

Bailam os sonhos em vendavais,
bailam as mariposas em lamparinas
e, o bailado de estrelas não cessará
pois, há pirilampos brilhando no olhar.

Depois da última chuva
bailaram infinidade de borboletas,
foi bailado de cores dentro dos corações
e, foi a composição da canção dos planetas.

Bailam os sonhos e os devaneios,
bailam os besouros dos meus feitiços
e, o bailado de estrelas não cessará
pois, a dança gira incessante na carrapeta.

Depois da última chuva
bailaram vertigens de tempestades,
foi bailado de nuvens ao som de trovões
e, foi a composição da canção da eternidade.

Bailam os sonhos e o relampejar,
bailam as sombras d’alguma penumbra
e, o bailado de estrelas não cessará
pois, a dança da vida é de insanidade.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Sequelas de Primavera



A primavera se vai com clamor
e deixa a pétala azul de uma flor
embebida em luz e nostalgia
por entre os dias perdendo sua cor.

A primavera se vai e o jardim
é o que fica, o que resta de mim
desorvalhando gramíneas de dor,
se despedindo em langor, beija-flor.

A primavera se vai e eu aqui
me remoendo em minhas sequelas,
não são só minhas, também são dela;
são profundas sequelas de primavera.

Morreram as cores e as flores pranteiam
lágrimas secas de pólen e mel,
ainda sim borboletas serpenteiam
para inspirar versos de menestrel.

São as sequelas d’outra primavera
de folhas secas, pétalas pisoteadas,
são as estações que travam a guerra
com suas armas pelas madrugadas.

Mas, a flor do cacto sobrevive ao sol
fazendo primaveras no verão;
mas, a flor do lácio sobrevive em mim
que garatuja poesias no chão mirrado do sertão.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Soneto de uma Viola Amanhecida



Minha viola amanheceu cantando
um estribilho à luz da madrugada
enquanto pássaros iam revoando
no céu nascente de aurora dourada.

Minha viola em canção orvalhada
e o dedilhar à paz d’outro mundo
enquanto à flor tão desinteressada
em seu olhar vazado e furibundo.

Cantarolou ao dia à cantiga do tempo
e as vozes entrelaçaram-se ao vento
carregando a areia fina da ampulheta

para um além do além desconhecido,
para o além, depois deste planeta
só para ter sempre você comigo.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Dos Pilares Místicos e Alquímicos dos Meus Alicerces



Apoio-me em pensamentos místicos,
deságuo em cataratas rústicas,
meu céu é de estrelas milenares,
minha voz é uma trombeta muda.

Apoio-me em verso pleno vívido
então minhas mãos deságuam letras
que jorram cachoeiras de rimas,
que dizem herméticas cantigas.

Apoio-me em minha bengala velha,
viajo por planícies siderais
por onde eu cultivo meus sonhos,
por onde canto encantos transcendentais.

Apoio-me entre pilares mágicos,
caminho por sendas de alta magia,
em Bohaz sou mistérios da noite
mas em Jakin sou plena luz do dia.

Apoio-me no consciente microcósmico,
me perco no inconsciente macrocósmico,
me lanço e enlaço os sete véus de Isis
para encontrar-me com a alma do Cósmico.

Agora descanso os meus estágios
ferventes no cadinho da Alquimia,
minh’alma transmuta o chumbo em ouro;
então meus pecados agora são tesouros.


Jonas R. Sanches
Imagem: Dragão Alquimico de Ripley-Theatrum Chemicum Britannicum-1652

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Visões das Flores de Parnaso




Eu vi mil sóis no céu noturno e a poesia
foi firmamento negro de estrelas
que eram sóis em devaneios, pensamentos
que revoavam pela mente derradeira.

Eu vi mil sóis e também vi planetas
que circundavam o ventre do infinito,
eternidades incontáveis de cometas
que viajavam pelos confins transcritos.

Eu vi no verso nascer brilho e poema,
eu vi no céu um longo sonho alienígena,
eu vi no sol o mistério em seu emblema,
eu vi na senda a luz de um mito indígena.

Eu vi no verso o meu inverso inusitado,
eu vi na morte o outro lado da vida,
eu vi no Edén Adão pagando seu pecado,
eu vi em Eva os motivos dessa lida.

Eu vi tais coisas então calei em sobressalto
e meu vislumbre enlevou-me sob a rima,
eu vi no cântico os versos de um arauto
que declamou-se com su’alma à menina.

Eu vi mil sóis a faiscarem em teu olhar,
senti teu cheiro, era tal qual bruma do mar
e tua voz ressoava tal qual trombeta
a entoar a doce música d'outro planeta.

Eu vi anjos digladiarem-se com demônios
na eterna luta e amor do bem e o mal,
eu vi de tudo e recordei em poesias
as minhas vias d’algo que é sensacional.

Eu vi mil sóis, eram as flores de parnaso
a florescerem com pégaso em constelação,
eu vi a luz iridescente em meu ocaso
resplandescente em coisas do meu coração.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 13 de dezembro de 2014

Estranhezas



Des(construção) da p-a-l-a-v-r-a
ou a re(construção) da palavra,
às vezes a poesia é tão estranha
outras é simplesmente poesia;

minha alma é de poemas cotidianos,
meus dias são poemas observados,
as noites são as estrelas poetizadas
em versos lunares e outros cometas;
sou de poesias e algumas rimas solitárias,

estrofe de um verso só

ou, que seja de dois versos
para complementarem-se como yin e yang;

ou, o ternário
resumido em um terceto.
Pai, Filho e Espírito Santo.

E a natureza do quaternário
como a terra, a água, o fogo e o ar,
norte, sul, leste e oeste
indicando as direções de uma quadra;

às vezes a poesia é tão estranha,
às vezes os poetas são mais estranhos ainda,
caminhantes de vias intermináveis,
viajores de universos de sensações...

Às vezes a poesia é tão estranha.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Por Detrás da Chuva



Era o sol espiando por detrás da chuva
e as gotículas brilhavam arco-íris,
nuvens escorriam pelo firmamento
e as flores bocejavam umedecidas.

Agradabilíssima tarde de quase verão
vislumbrando o contentismo dos pássaros
esvoaçando em trinares argutos
e banhando-se na pocinha ao meio-fio.

O tilintar do gotejar na minha janela
ditou o ritmo e a rima do versejar
que marcha em passos de amolgadela
em direção à sensação crepuscular.

Era o poeta espiando por detrás da chuva
e a inspiração vestiu-se como uma luva
por linhas tortas os versos retos do coração
que titubeia e ricocheteia como trovão.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Fantasmas Distorcidos



Ressuscitei os meus fantasmas,
eram assombrações dissolvidas
no tempo, sofrimentos passados;
agora a vida é um pouco mais
de alegrias, iluminura dos dias.

Meus fantasmas já não são mais
aterrorizantes, são coisas banais
pois, a vida é algo mais, é poesia;
vida de versos, rimas e alegorias,
minhas metáforas e euforias.

Meus fantasmas enterrei no deserto
do tempo, e o meu alento é o amor
que fortalece e não arrefece em dor,
tenho o lápis, o amor e a poesia;
tenho um jardim de lilases inspirações.

Ressuscitei os meus fantasmas,
eram sombras longínquas distorcidas,
quimeras em sonhos de outra vida
que reescreverei talvez num livro
para alimentar os sonhos da posteridade.


Jonas R. Sanches
Imagem: Constelação de Carina

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Matando a Saudade dos Versos



E finalmente, eu frente a frente
à minha amada e iluminada poesia,
foram dias que passaram sem versos
mas, hoje novamente o recomeço.

E é o começo do verbo à carne
e o cerne da lucidez intransponível,
indivisível tal qual a flor desabrochada
rompendo olor, inusitada à madrugada.

E é o começo, gênese, árvore frutificada
doando frutos e o poeta doando letras;
doando a rima à luz vigente crepuscular
que ilumina com cores raras a volta ao lar.

E finalmente, eu frente a frente
à minha amada e iluminada poesia,
raro momento de sentimento vasto
d’onde me arranjo em meu poema mágico.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Cantos Idílicos de Clangor



Enquanto o poeta adormeceu pelos idílios
a natureza despertou lírica e febril,
as árvores dançavam cores esmeraldinas
e, os peixes cantavam às profundezas do rio.

Paixão bucólica no verso simples e pastoril
serpenteante por entre os céus da poesia
que tem estrelas e firmamentos tão luzidios,
que voam pássaros de olhares desassombrados.

E o menino empunha a pena em bafejado
para discorrer em suas linhas o mar senil
depois coloca em uma garrafa o seu poema
para manda-lo por entre as ondas azuis anil.

Paixão bucólica na flor retórica tão multicor,
jardins suspensos por pensamentos tão arredios
e as borboletas cores discretas retém langor
enquanto os anjos entoam cantos, sons e clangor.


Jonas R. Sanches
Imagem: Joan Miro

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Desgasturas de Palavras



O meu vislumbre é desgastura de palavras,
são os meus verbos, minhas crias, minhas lavras;
os meus caminhos tortuosos são intensos
levam meus pés e minha mente aonde penso.

O meu devaneio é um cingir leve e profundo,
é prolixidez da polidez desse meu mundo
e, o mundo gira e viravolteia na carrapeta;
são voltas livres dentro dos livros desse planeta.

O meu sentimento é um momento liso e raso,
é a emoção da sensação, galardão do ocaso
que não desfaz tudo que nasce da minha sorte;
pois essa dança desde criança sorri à morte.

Os meus poemas são de emblemas desalinhados,
são metáforas líricas, analogias desse meu fado
que segue à risca o que escreveram pelas estrelas;
minha poesia qu’escapa à alma que é derradeira.


Jonas R. Sanches
Imagem: George Grie

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Os Pássaros na Procela




Teceu ao céu curvilíneo voo,
trinou um doce canto com clangor,
e o plúmbeo firmamento gritou procela,
e o viço que soprou plácido entornou;

os prados sorriram ao amparo verdejante
e a flor então brotou à gentilidade,
correu das nuvens águas entre trovões,
coriscos de iluminura no acantoamento

e a mãe natureza pelejou fertilidade.
Teceu ao céu em voo o baço sabiá,
seu canto estridulou por entre as copas,
o rio tão corredio acalentou no mar

por onde avezou-se entre as docas;
folgou então em ramo de azevinho
plumagem exuberante d’um uirapuru,
a alva garça se iluminou em probo brilho,

arrostou com a negrura do urubu.
Depois da borrasca já consumida
foi que teceu ao céu às andorinhas,
foi chuva na relva esbelta de aleluias;

foi então à plena voz à poesia
tão sacra ao lápis e ao pensamento
que a vastidão cortou sepulcro ao dia
cingindo de estrelas esse rebento.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Açucena



Me deleito em teu olor imarcescível,
oh açucena; tuas cores ternas ostentam
a beleza calmosa e velutínea do jardim,
oh açucena! Musa fausta e alentosa

se derrame com tuas pétalas em mim;
e na tênue e purpúrea tez perca o pejo
e, se derrame tenra em caule arqueado
qu’eu me derramo em ti qual beija-flor.

Me deleito ao sorver do teu mel,
oh açucena; tua doçura faz o peito fremir,
perco o leme e o lume no acerbo da escuma
e me perco em ti como a alma na bruma.

Oh açucena! Me inquieta estar longe de ti,
na distância meu pranto é canto arguto,
no teu pólen meu ser é xucro e aragano
mas, sem ti torno-me soturno e gaudério.

Oh açucena! Deixe-me morrer no cerrado;
em teu colo macio e orvalhado,
oh açucena; deixe-me morrer de amor
beijando com ardor teu seio de campônia.


Jonas R. Sanches