quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Trinta e Um



Vejo meu tempo passando depressa
e a eternidade é só o que resta
seresta da vida, da morte e da pressa
cantigas do mundo oriundo vazio.

Vejo meu tempo escorrer ampulhetas
desertos da idade e da vivacidade
que esvai-se, e o que fica é conhecimento
regente da morte, do amor e do tempo.

Vejo os meus anos escapando entre os dedos
e o fim fica próximo do meu desejo
que é de atravessar pela porta sem medo
que é conhecer o que é o outro lado.

Vejo o meu tempo passando depressa
meus trinta e um anos de eternidades
contados nos dedos, vivendo de verdade
bem próximo do meu juízo final.


Jonas R. Sanches

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Do Amor das Noites pelos Dias



Do dia que se esvai um tresvario
e a mente que adormece febricitante
vislumbra o universo em um instante
e a sua resolução é um desvario.

Da noite que invade uma penumbra
e a mente então desperta a insanidade
despindo a roupa suja da inverdade
e a outra resolução é uma verdade.

Dos dias noites caladas e uma letra
tão muda que ensurdece todo planeta
e a greta por onde espio é tão estreita
mas, o espírito insiste em contemplar

o mar já revoltoso das minhas lágrimas
que invade com suas ondas o sentimento
fazendo de suas marés paz e tormentos
fazendo da sua bruma futuro incerto.

Das noites dias feridos e imaculados
tão vastos que já não vão a lugar algum
somente ficam inertes em suas clausuras
mas, o espírito insiste em libertação

das coisas fantasiosas e tão reais
que invadem com poesias minhas ações
fazendo dos versos afagos aos corações
fazendo até aonde eu não posso mais.

E enquanto o dia mastiga a noite;
a noite regurgita um novo amanhecer.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Sheila Nogueira

Soneto Solar



No sol que insurgiu atrás do monte
um brilho que se foi assim, sumiu
pobre daquele homem que não viu
a tarde indo embora assim infante

mas há quem viu, e foi assim contente
adentrando a noite, assim se redimiu
então na estrela o olhar se eximiu
e a vida foi um sonho constante.

No sol que surgiu na cordilheira
a iluminar-me de sobremaneira,
vistosos raios invadindo a alma

deixando uma certeza e uma calma;
deixando saber que o rastro é poesia
solar a iluminar com alegria.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Das Vontades Não Resolvidas



Virtudes já corroídas
e sentimentos avulsos
delinquências carcomidas
e um verso de vultos

assombrando meus dias
tão calados
tão cheios de vontades
que são só decepção,

sem amor na contramão
sem dinheiro e sem sorriso
sem vontade e indeciso
na sequência dessa fossa

que deságua em minha corsa
que se faz em poesia
que é só melancolia
e depois eu adormeço

e n’outro dia já me esqueço
do que foi
do que será;
será fim ou um começo

desse inferno onde padeço
sem flores nem temporais
e os dias são iguais
àquele que é o recomeço

daquilo que não mereço
daquilo que já não é
no profundo que eu quiser
e depois já não é nada

só fruto da madrugada
e a mente fortuita
e a estrela que é bonita
foi o final dessa escassez

foi presságio de alguns reis
que servi em outras vidas
e hoje a cruz é só ferida
e hoje o dia terminou.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Bom Dia Passarinho



Você nem sabe como geme a pitangueira
quando enfrenta a ventania
seus pecados ela expia
e o sabiá faz melodia
e vai cantar no abacateiro
corruíra no celeiro vai cuidar da sua vida.

Você nem sabe como geme o pé de pinha
quando o fruto é verdadeiro
seus pecados ele expira
e o rouxinol canta certeiro
e vai cantar no sabugueiro
tico-tico no cafeeiro canta e segue a sua sina.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Despertando do Sono Profundo



Acorde!
Sua alma já quer amanhecer
com céus azuis e um blues
daqueles das antigas
melhor do que cantigas
antiquadas e verossímeis.

Acorde!
Sua alma já é um lá menor
com céus noturnos e diapasões
que fazem dos timbres alucinações
corrosivas como os versos
que compus sem metonímias.

Acorde!
Recorde os dias e o bucolismo
mergulhe seu espírito em lirismo
que embriaga sem algum pudor
que é o que liberta-nos da dor
que é ferro e fogo como o amor.

Acorde!
Sua alma já é um si bemol
a reverberar o arrebol
desgastando sons e cores psicodélicas
emprestando o branco às angélicas
que desabrocham pelos jardins.

Acorde!
Para contemplar essa poesia
e depois adormeça com anjos por eternidades.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 26 de outubro de 2013

Das Novas Contemplações as Velhas Recordações



De novas imagens que contemplei
lembranças antigas que não vi
revoltas e cantigas que reli
nas tábuas da morte de um rei.

De novas profecias retirei
lembranças de feitos tão tardios
afogados nas águas d’algum rio
por onde na fantasia naveguei.

De velhas efígies cicatrizes
marcadas na alma em sensações
dos dias vividos entre leões
dos dias morridos em recordações.

Das velhas feridas sangue e poesias
vertendo minhas lágrimas de dor
contendo minhas feridas de amor
nas noites eternas do infinito.

Das novas histórias velhos mitos
nascidos em mentes de ilusão
versados em pobre coração
que bate, bate, querendo partir.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

No Limbo do Coração



Das mágoas cansadas bebi
em copos onde me afoguei
tragédias que sobrevivi
tampouco que não revoguei

as flores de outrora e as cores
picantes de pétalas murchas
secando em colares de bruxas
tentando me enfeitiçar.

Das dores da alma provei
em corpos de vidas passadas
verdades d’onde eu renasci
em carcaças fulgentes quebradas

com asas pelas madrugadas
eternas desse sofrimento
que vai além do meu lamento
e adormece pelas poesias.

Do sangue dos santos bebi
e então eu me apaixonei
e à morte então resisti
e ao limbo então retornei

com as mão vazias de pecados
com uma cesta de borboletas
com um relógio ou ampulheta
e ali erigi meu novo lar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google  

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Inferno



Enfermo e o inferno
constante a crepitar
na alma e no olhar
que vigia meus passos.

Inverno e o inferno
constante no sol
rosado do arrebol
que chega sem avisar.

Incerto e o inferno
nos dias tão quentes
da boca sem dentes
que mastiga o meu pensar.

Império e o inferno
tão cheio de seres
querendo voltar
no tempo do vento e do mar.

Ingênuo e o inferno
no espírito sucinto
querendo expressar
a noite em um versejar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Do Não Querer uma Nova Satisfação



Não quero saber as respostas
apenas viver as eternas dúvidas,
apenas mergulhar mistérios
sem saber nada do amanhã.

Não quero mais saber de mim,
vou quebrar todos os espelhos
e debruçar a esmo ao parapeito
da janela frente ao desconhecido.

Não quero ser pra te agradar
aquilo que foge a minha alçada,
serei apenas mais um boêmio
riscando versos pela madrugada.

Eu já não leio as perguntas
e na incerteza consulto o dicionário,
e no entardecer libélulas e cigarras
viravolteiam por sobre minha cabeça.

Eu não quero padecer em solidão
foi por isso que comprei um cão,
foi por isso que plantei jardins,
foi por isso que plantei estrelas.

Eu já não vejo o seu olhar na contramão
e meus faróis não iluminam a estrada,
então tateio às cegas seu corpo nu
e tatuo no seu coração o meu punhal.

Não quero saber as respostas,
não quero fazer as perguntas;
quero apenas adormecer no plenilúnio
e vicejar papoulas às borboletas.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Soneto da Intenção das Palavras



E a palavra da vida ao inanimado
então eis que é a literatura pura
ressuscitando o sonho já finado
e carregando a vida em sua  lonjura.

E a palavra contorna o indefinível
então eis que é viagem de um louco poeta
desanuviando o ente que é plausível
e espalhando as palavras do asceta.

Palavras, distrações e fantasia
são lavras dessa mente noite e dia,
são formas de viver conhecimento

e fica à mercê do entendimento;
palavras livres as interpretações,
palavras que vão ao âmago dos corações.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Do Reino de Si Mesmo



O rei em nós e a solidão
dispersa-se no próprio eu
e aí distrai sua melancolia
e aí descobre-se a nostalgia.

O rei no olhar em si no espelho
e a análise do próprio ser
e aí distrai seu eufemismo
e aí descobre-se o despertar.

O rei dos reis e a poesia
e a descrição do seu momento
e aí a verdade é o lamento
e aí descobre-se os próprios erros.

O rei de si e a liberdade
e a prisão já é o passado
e aí distrai-se tal qual viver
e aí descobre que já não há limites.

Reis e reinos e seus reinados
determinantes em seus legados;
pois cada um é o rei de si
reinante em alma e coração.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Das Querências do Coração



Eu queria o amor e a fantasia
mas consegui somente a poesia
dos dias flácidos calorentos
dos sopro refrescante do vento.

Eu queria sonhos e absurdos
mas consegui somente um insulto
das noites cálidas solitárias
da companhia de obscuros vultos.

Quis tantas coisas, tive o bastante,
quis tantas flores por um instante
tão rápido como a vida que passa
tão esdrúxulo quanto sua carapaça.

Quis quase nada, tive o bastante,
quis ser um pássaro a voar distante
mas, minhas asas estão em frangalhos
então repousei lá por entre os galhos.

Eu queria o amor e a fantasia
então mergulhei em poesia
versando noites, escrevendo dias;
semeando sonhos exuberantes.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Extensa Solidão



Quando a solidão é extensa
o coração se fragmenta
o meu olhar se esvazia
e minh’alma não se alimenta.

Quando é escasso o sentimento
meu espírito junto ao vento
chora e uiva anoitecendo
e o amanhecer é pleno vazio.

Busco companhia na última estrela
e há saudade da minha infância
e há saudade do meu amor
e há saudade da amizade;

então calo-me e sigo a senda
que mostra-se interminável
e infinita são as provações,
resta-me apenas contemplar as flores.

Quando a solidão é extensa
minha mente vislumbra o amanhã
e já não há esperança
somente uma nevoa perturbadora.


Jonas R. Sanches
Imagem: Emmanuel Nery

domingo, 20 de outubro de 2013

Et Poeta Poetica



Do poeta um risco e sentimentos
dispersos pelos versos, pela vida;
que segue sua letra sem guarida
que segue encantando corações.

Do poeta o rio extraordinário
que corre entre pedras e espinhos
que busca em cada verso o caminho
e verte a verve da imaginação.

Do poeta o riso, o choro e a madrugada
que invade os sonhos e as estrofes
e as rimas chegam de forma precoce
enchendo de formas sua ilusão.

Do poeta um abraço assim fulgente
que abraça de forma arrebatadora
e faz da poesia a mão salvadora
em seu momento de dissipação.

Do poeta o céu azul e o sol profundo
a iluminar olhares que vão distantes
a relembrar verdades que eram antes
da pena em seu sangue mergulhar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

sábado, 19 de outubro de 2013

Barganhas



Eu não vendi a minha alma
só emprestei-a ao infinito
alguns instantes, algumas vidas
que passaram em um minuto.

Eu não vendi os meus pertences
só emprestei-os para as estrelas
e dos meus ossos algumas cinzas
e a minha essência verdadeira.

Eu não vendi os sentimentos
só enterrei-os numa geleira
e foi tão frio meu coração
então morri sem pranto algum.

Ressuscitei-me entre os dentes
da velha carcaça do dragão
e foram labaredas, foram vertigens
e meus tentáculos eram de luz.

Eu não vendi os meus sonhos
apenas emprestei-os ao tempo
que passa tão depressa eternamente;
e no fim das contas era apenas uma poesia.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Soneto Hipotético



De um pensamento hipotético
lamentos, liberdade ou clausura,
tormentos de minh’alma impura
ou concatenações do meu eu poético.

De um pensamento até eclético
recompensa, evidência, usura,
e d’alma jorram rios de água pura
mas, inda há a miséria e o antiético.

Da pena o sangue róseo de um poeta
que outrora pensou como um asceta
mas, seus versos de misericórdia;

são brados contra toda discórdia
que habita e invade o seu mundo;
e as verdades se ocultam ao submundo.


Jonas R. Sanches
Imagem: Alma Welt

De Uma Estranheza Ortodoxa



Um tanto quanto poético
esse amanhecer ortodoxo
nesse dia encharcado
de chuva, de sangue, de lágrimas.

Um tanto quanto nebulosos
o poema e a insanidade,
e eu sigo à risca o receituário
e quase morro anestesiado.

Gostaria de dias e trovoadas
mas, são dias enevoados;
dias escuros e noturnos
pelo menos há alguns trovões.

Gostaria de asas pra voar
mas gastei minhas letras atordoadas,
tentarei uma barganha no crepúsculo
ou roubarei as penas das andorinhas;

para poder planar entre as nuvens
e me iluminar entre raios e olhares
angélicos e siderais e espaciais,
quem sabe sou arrebatado por um cometa.

Um tanto quanto poético
mas nada ortodoxo esse final
pois a poesia é quase uma heteronímia
desses pensamentos que são e não são meus.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Odisseia



Odisseias cataclísmicas
e um gole de frisante
tão gelado que dói a cabeça
e o pensamento congela
e dois tragos após
uma poesia;
saltitante
eletrizante
tão fria quanto eu
logo após o jantar
e o jornal vejo em quadrinhos
todos salteados
sem nexo algum
e a enfermeira chega as 4:30 da manhã
sem jeito algum
e se lamenta
e pede desculpas
olho suas pernas roliças
e faço um movimento leve com a cabeça
antes que eu me esqueça
que é noite e o vento uiva
por esses corredores de bactérias
e há frascos pra eu limpar os dedos
mas,
faço versos as entidades vagantes
que pululam frescas ao meu olhar
mas,
leio um livro sem pé nem cabeça
e adormeço antes do sol raiar.


Jonas R. Sanches
Imagem: Odisseia de Angelo

Do Meu Coração aos Mestres



Do mestre a raiz do saber
essência do sobreviver,
se é médico, físico ou arquiteto
obteve no seu dialeto
o ensino pra poder viver.

Do mestre a palavra importante
e a vida assim foi diferente,
foi ônibus, metro e engarrafamento
pra vir suprir seu contento
que é poder ensinar toda gente.

Do mestre um abraço apertado
e a sinceridade do conhecimento
de professores aos professores,
lamúrias, sorrisos e esplendores
de uma lida que não tem preço.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Dos Ecos dos Meus Cabelos



Me acho e me perco num raio do amor
que passa e transpassa no tempo da flor
e avança na busca do se apaixonar
pela vida que segue em plena solidão.

Me acho e me perco no avesso do mundo
às vezes me olham como eu fosse um vagabundo,
são meus cabelos longos querendo voar;
e na minha cabeça palavras e um relampejar.

Me acho e te acho sentada sozinha na esquina
me olha e te olho profundo mergulho da alma
e a voz que ti tece apetece qualquer coração
então me embriago e os ouvidos são satisfação.

Me perco e me acho e te acho no rio das estrelas
e as vozes agora são timbres de nota certeira
que aquece e enriquece o momento oportuno
que é quando nos dois enlaçados fugimos do mundo.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Versos Entrelaçados



Entrelaço o riso e o pranto
e a dor que é acalanto
é o remédio da insurreição
e reúno no peito os cacos do meu coração.

Entrelaço-me a planta e à flor
que perfuma essa bruma do amanhecer
faz nascer a vontade, faz querer a verdade
de um Cósmico e da criação.

Entrelaço as estrelas e os sonhos
e a semente que vinga é mistério
brotando e esticando seus galhos à evolução;
e o espinho é reflexo de cada missão.

Entrelaço-me à luz que aporta
e bate em minha porta e reporta
seu lugar que no mais é iluminar o olhar
que é da alma e explana minha conclusão.

Entrelaço o espírito e o verso
e é junção do homem com o universo
e a cria que é vaga e é fria é a poesia
que jorra constante da meditação.


Jonas R. Sanches
Imagem: Quantum Enanglement by zananeichan

domingo, 13 de outubro de 2013

Hoje me Demorei em Poesias



Hoje o vento soprou e sumiu
e o verso raiou e ficou
como dois olhares que se apaixonam
e é amor a primeira vista; ou a prazo.

Hoje do frasco guardado eu provei
e eram sabores tão raros eu sei
que o sangue em rios caudalosos flui
e a ave em presságio piando partiu.

Hoje eu despeço da flor que murchou
só guardo o perfume perfeito no pensamento
e a cena, açucena florindo sorriu
e casou beija-flor seu amor colibri.

Hoje a tarde que chega vem de nostalgia
e o medo que habita no peito é a solidão
faceira e certeira, tão boa e ruim;
mas o poeta é asceta, e a mente é repleta de mim.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Google

sábado, 12 de outubro de 2013

Homem – Bomba



Mais um homem-bomba que explodiu
em um mercado em Bagdá
e toda massa que morreu
sem saber que se fudeu
vislumbraram Alá e Jesus;
mais um homem que morreu
pelo veneno dessas batalhas
que vendem almas
covil de mortalhas
e na vitrola o seu fuzil
que na cabeça explodiu
e jogou pro chão o seus miolos
nem no jornal você saiu
foi só uma carta pra família
seguindo adiante com esse afago
fumado em mais um baseado
e dor da guerra deixou sequelas
e o poeta morreu afogado em sangue.


Jonas R. Sanches
Imagem: Nick Ut/Ap

Poesia a Esmo



Era quase madrugada
e a estrela ensolarada
era um olhar de criança
inocente em plena dança
que entrecortava idades
e tudo isso é bem verdade
foi uma alucinação
da penumbra que chegava
no olhar da doce fada
e a quimera e o pesadelo
foram astúcias do desvelo
enfadado à ruptura
da verdade que era pura
e hoje é plena estupidez
e as crianças são vocês
pois meu corpo envelhecido
já é algo entristecido
e na vida se esvaiu
só restou a poesia
demarcando a sinfonia
dessa música serena
onde o sorriso desvenda
uma nova erupção
desse dito coração
atravancado em seu silêncio.


Jonas R. Sanches 
Imagem: Google

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Abstrações Vagarosas



Vagarosamente glórias
tão abstratas quanto eu
e a caneta e o caderno
em um bafo de verão
ou um trepidar de inverno.

Vagarosamente ela passa
tão abstrata quanto os sonhos
e sua saia rodada balança
em uma suave dança
e seu sorriso é tal qual criança.

Vagarosamente a primavera
desabrochando abstrata
entre bochichos de rosas
entre olhares de violetas
e o amanhã será mais cores.

Vagarosamente a poesia
tão abstrata quanto meu sentir
que é tato e contemplação
que é amor e é coração
titubeante entre estrelas.

Vagarosamente vou partir
e deixarei abstrações múltiplas
e deixarei distrações rútilas
e nas palavras derradeiras
uma marca indelével de mim.


Jonas R. Sanches
Imagem: Horst - Fischer

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A Poesia e o Ócio



A poesia às vezes me escapa
entre os dedos, entre as linhas
do caderno ou da vida ou da morte
então deixo-a fluir intensamente

da mente, do corpo, da alma;
e é buscando a paz e a calma
que sigo adiante e obstante
as letras se corrompem em mim.

A poesia às vezes, quase sempre
é o meu remédio contra esse tédio
que envenena minhas entranhas
e é dessa barganha que deixo-a fluir

pelo espaço sem ócio ou cansaço;
e é buscando a cura e a lucidez
que sigo e tento outra vez, o verso
transverso que desponta em meu chapéu.

A poesia às vezes machuca essa culpa
tão lesa que habita na incerteza
e então me distraio e contraio o sorriso
ambíguo que rasga minha face tardia

que é branda e que é nua e que é fria;
mas dessa minha rispidez eu resumo
e relembro do centro do prumo
de algum equilíbrio da minha insensatez.


Jonas R. Sanches
Imagem: Corbis

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

De um Elo na Introspecção



O princípio e o fim encravado em nós
e dos mistérios a plena excelsitude,
no corpo inerte a alma em plenitude
criação Divinal em sua similitude.

O princípio e o fim seguindo o ciclo
da evolução onde a verdade é mito
naquela mente inda despreparada;
e ao iniciado a lida elucidada.

O princípio e o fim, mistério de Atlântida;
descendência de Atlântida protegendo,
aguardando o ressurgir do conhecimento
quando do dia do encontrarmo-nos à Paz.

E do Todo a comunhão Suprema
de seu cíclico em desenvolvimento
onde a semente é a pureza e a avidez;
e o cultivo é simples Eternidade.


Jonas R. Sanches
Imagem: The sun at his eastern gate - 1820 - William Blake

Atrevimentos Inocentes



Atrevo-me a viver os sonhos
e é tão comum o sorriso extinto
que já não há tristeza,
que já não há nada demais.

Atrevo-me a viver as dores
e já não há lágrimas
somente a sensação áspera,
somente algum martírio vivenciado.

Meu momento ao certo ainda é,
e meus poemas últimos são merencórios;
são frutos dessa indizível situação
explanada em linhas quase obtusas.

Meu momento é incerto ao infinito
e meus poemas gritam lendas e mitos,
gritam amores platônicos e solidões
tão plenas que não quero mais ninguém;

me olhando pela fresta da janela
ou me copiando os traços envelhecidos,
tão cansados quanto a flor de lisianto
que desfolhou-se pelo frio da primavera.

Atrevo-me a ser poeta, singular poeta;
e entrego todas metáforas em cálices,
minhas observações são analogias
e meu olhar tem um brilho estranho;

quando me miro frente ao espelho...
Serão apenas desconfianças?
Já não sei dizer ao certo sobre o verso,
somente atrevo-me em concatenações.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Seara dos Meus Pecados



Nessa seara de todos pecados
minha colheita é de perdição
sem céu, sem mar, sem chão,
e nem inferno a queimar meus pés;

sem transversais muito menos viés
apenas um pensamento augusto
mirando com olhar robusto
esse caminho que não tem final.

Nessa seara de todos pecados
me lanço como ser alado
num precipício de imaginação
e minhas asas são fosforescentes;

e minha faca carrego entre os dentes,
minha caneta foi de um ancião
então carrego-a com tinta-sangue
até o dia a deitar no caixão.

Nessa seara de todos pecados
não há rancores e não há perdão,
então se achegue e pegue minha mão
para lançarmos todas poesias;

para lançarmo-nos ao infinito
e a cada letra libertar o grito
que fere o peito quando está contido;
que é ferro e fogo como o meu castigo.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

Predileções e Nostalgias



Hoje a verdade é pura nostalgia
de outros tempos, de outras vidas,
onde havia uma predileção
por outras coisas, outra emoção.

Hoje meu sonho é pura escassez
d’algum sentido, alguma nitidez,
imagens turvas burlam minha mente
como se fossem algo indiferente.

Hoje o que resta é pura poesia
que escorre pelas minhas vias
então me desfaço nela
pois assim tateio algo que me tange.

Nesse momento à pura poesia
em dialeto reto dos meus dias
que são tão longos ou sem tempo algum,
que são tão cheios ou algo de nenhum.

Então sigo a farsa desses sentimentos,
então sigo em busca do meu santo graal,
explorando Atlântidas, deitado ao relento,
explorando a alma desse vendaval.


Jonas R. Sanches
Imagem: Google

domingo, 6 de outubro de 2013

Cantiga às Flores



Amanhecem cinzas e orvalhadas
escondendo a voz desorvalhada
que ressoa anis no bico do colibri
e sorri feliz a margarida

que revida e da vida a açucena
que floresce como emblema
de uma primavera plena
de cores, Ayahuasca ou Heliotrópio;

transmutando a pupila em telescópio
que faz ver almas na natureza
que faz senti o olor dessa pureza
de um momento meditativo

vislumbre anímico de um narciso
tão suicida no espelho d’água
e além do além pétalas de dálias
pra enfeitar de escamas peixe-flor

e fazer poesia d’alguma flor
e oferecer a tumba de um amor
que já repousa aos cravos e crisântemos
ou renasce augusta lótus pelos pântanos.


Jonas R. Sanches
Imagem: Robert Buelteman

Uma Tal Melancolia



Vejo toda a tristeza reunida
num mesmo olhar no espelho
no mesmo olhar vermelho
cansado de prantear.

Vejo e sinto a dor do pensamento
lacerado tal qual ferimento
de corpo, de alma e espírito;
e os devaneios voam longe.

E é então uma manhã de domingo
e o sol entrando pela vidraça
disfarça essa grão melancolia
que corrói a vida, que invade o dia.

Vejo toda a tristeza disfarçada
pela carne já tão cansada
de viver, de morrer, sobreviver;
querendo uma qualquer libertação.

Vejo distante a cor opaca do lamento
que se mistura ao sentimento
e então as cores em branco e preto
colorem essa tela moribunda de aquarela.

Vejo o poeta distinto amanhecido
já tão entristecido, coração ferido;
e na poesia rabiscada, ensanguentada,
todo seu amor se esvai com o tempo.


Jonas R. Sanches
Imagem: Grahan Franciose

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Definhando sob Essa Cruz Divina



Será mesmo que cada um tem sua cruz
pois, a minha jorra pus de desigualdade,
e falando no linguajar xucro e não padrão
tudo entrelaça nessa porra de desigualdade;

e eu, ah, eu vivo moribundo
caminhando o dia a dia apelidado de vagabundo
pois, não tenho rotina, mas, a tristeza aglutina
nessas injúrias endemoninhadas

que me levam até Dante, na foz do inferno
mas Virgílio me tira um bom sarro
e me esfrega nesse catarro, imundo
que eu mesmo deixei escorrer do  mundo.

Só sei que sei que não temo a desgraça
e de toda essa joça eu acho graça
e minh’alma cansada de purgatórios
só pensa em encontrar um mictório.

Será mesmo que cada um tem sua cruz
ou foi mais uma enganação herdada de Jesus
que fez o que fez porque estava além
dessa cova que amontoa as almas do além.


Jonas R. Sanches
Imagem: Alucinação

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O Tempo que é o Tempo do Espaço



Eu passo e é a rua que passa
e o tempo transpassa veloz
ou atroz todo tempo que para
e no tempo dispara sua voz.

Eu passo e o tempo não passa
e alma ultrapassa a velocidade da luz
e se choca na luz que é trapaça
e engana o mapa que à conduz.

Eu passo e o tempo disfarça
essa farsa que passa diante o nariz
do prego sentado na esquina da vida
esperando o veneno do ar que condiz.

Não passo o que segue é o espaço
e a estrela ou cometa de aço maciço
que vai ser o início de tudo explodir
e tudo de novo renasce e tenta ser feliz.


Jonas R. Sanches
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